terça-feira, 28 de abril de 2009

Ontem/Além - Lênin


Ontem/Além - Lênin

Falta.

Sinto falta dos teus beijos breves, do teu hálito de manhã

De teu vestido-musgo, de teu sorriso estranho

De teu olhar sem jeito sinto falta.

Sinto falta das promessas, das declarações de amor pra vida inteira

Das fugas, dos filmes à noitinha, das fotos,

das frases sinto falta. Tantos fatos...


não há mais fatos no mundo. O mundo é o agora

e o agora são faces e tempo e muito. Tudo é hipérbole

e não há mais espaço no mundo – o mundo é pequeno


Passaram-se os dias. Os amores também passaram.

Passaram-se os objetivos, a garra, o grito sem explicação, o fastio

[o rosto sem barba, as mãos sem rugas

A coragem, a esperança também passou... e sinto falta


Faço poemas, leio jornais.


Os homens inda protestam, cantam e se escondem


nas tavernas de copo na mão; levantam bandeiras,

cercas eletrificadas, armas...São todos metade, são todos semi.

A vida ainda é náusea;


Cá, falta inda sinto das tuas mãos nas minhas,

dos teus braços e abraços nos meus

[de teus lábios que inspiravam poemas diferentes deste - ferida.

do perfume nas cartas, da troca de alianças, das tímidas mãos que se enlaçavam.

da laranjeira no quintal; do vaso de flores vazio. Dos cactos.

Da tua face doce no sal da minha face...

da filosofia ao pé da “Lareira de Sonhos Impossíveis”...



Manoel Guedes de Almeida

Teresina-PI, terça-feira, 24 de março de 2009.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Mais uma vez adeus





Mais uma vez adeus


meu corpo sob a terra sepultado dorme e dormindo chora
desperto, coração aberto. Trago-me rosas.

o cemitério é todo silêncio
e na aleluia matinal dos copos
vermes espreitam-me a agonia, devoram-me
as vestes, epiderme fria. Amonificam cada gota
de esperança de meu ser. É tempo de putrefação
elejamos os vermes.

deposito o mandacaru sobre o poste. Uma lagartixa
espreita e dista. Lênin.
[o Sol é quente, camaradas - larguemos o Sol!

e na carne podre e repousado manto nasce
uma rosa vermelha e vazia (tédio)
mas não dura mais que um tanto, mais qum dia


se o mundo chora? chorar é qualidade dos fracos
- e somos fortes, somos filhos da morte!

fazemos canção, erguemos estátuas e às destruímos - sonhos vãos
samba.

Zaratustra corta os pulsos. Meduna.

Torquato afoga-se no pinico. Drummond
se esquece. Bakunin candidata-se

à prefeitura de São João dos Patos. Marx enforca-se

com o cadarço de seu sapato cinza.


Manoel Guedes de Almeida
Teresina-PI, terça-feira, 31 de março de 2009.