segunda-feira, 20 de setembro de 2010

É você

É você

E só de pensar que as coisas poderiam mudar
Divisas caídas, divisórias suspensas no ar
E o suspiro emanando dos corpos sob o luar

Teu nome gravado a ferro e fogo com letras tortas – quero te desvendar
Cavalo alado tatuado nas minhas costas – quero te seqüestrar
Teu corpo nu desvendando a minha alma muda

No meio da noite o suor surdo e cego e mudo me lembra o medo do teu nome
E a noite sedenta por sangue me faz ansiar pelo gosto da morte
Então olho a janela, e ao norte
Não há nada, nem Deus, e com sorte
Talvez algum lugar distante me deixe feliz

Daí eu me viro do avesso e me afogo no mar que há no travesseiro
Deserto afegão, vago ofegante, herói amarelo de medo
Decerto a vida acabará aqui

Mas se aí eu te abraço e tudo passa, passa tudo que eu não podia suportar
Nossa cama tão pequena parece infinita
Meu amor tão branco parece aquarela
A porta semi-aberta e os corpos semeados no quintal



Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 19 de setembro de 2010.