
O peso da pena
A mesa estava vazia, vazios estavam os copos.
Todas as bocas sorriam e choravam todos os olhos.
Sobre a mesa, lentamente Teresa se despia
Como criança que explora o próprio pudor.
Todos sorriam alegremente e cantavam unívocos
A mesma canção – mas ninguém entendia
E os sorrisos eram todos iguais
Lá fora, sobre a plantação, lagartixas aladas
Anunciam estação. Mas o milharal é de rocha
E o solo é negro e duro e estéril. O sol é ausente.
Somos formigas famintas
E nossos negros buracos orientam multidão
O coletivo inconsciente guia as mãos e as mãos
São fortes e são tantas e se dão, e se vão
Antes que percebamos qualquer ínfima intenção.
Entre a volúpia dos corpos há um espaço
Maior que o maior vão
E aqueles ternos olham Teresa e Teresa nua
Fecha os olhos e se fantasia de Marie Charlet.
Na escuridão de Teresa não há imagem que perfaça o medo.
Não há medo. Não há razão alguma.
Apenas uma lâmpada suspensa do teto.
Escuridão é a negação de toda luz. E a escuridão, Teresa,
É o infinito. Pega tua taça. Beba o infinito.
Dissolva-te nele. Dispersa-te.
Lá fora, as lagartixas voam e os homens marcham
E cantam dingos felizes. Em Boêmia os cemitérios são festa
De convidados nus, enterrados vivos em vala coletiva
Teresa dança. Seu corpo é leve, mas sua cabeça
Pesa mais que o mundo. Sente um desejo
Incontrolável de cair, uma atração pelo declínio
Pelo delírio. Deseja-o como à própria vida
[suas pernas tremem
Zoroaster anuncia o fim dos tempos. O jegue relincha.
Por mais que gritemos, o silêncio é sempre maior
Que qualquer suspiro.
Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 16 de julho de 2009.