domingo, 13 de setembro de 2009

Engrenagem


Engrenagem

O tempo veio de inquietação, veio do mais profundo medo.
Veio dos corpos perdidos na morte, na imensidão da morte,
Dos corpos desprovidos de amor...

Veio da mais completa alienação, do titilar das horas
Da engrenagem, da sirene das fábricas; nascera do cansaço,
Da fadiga, da ânsia de morte – da vertigem
Rebentara no Século das Luzes, crescera no seio da Revolução
Tivera a alma lavada a sangue, ouvira quieto gritos de terror
Seguidos do mais tenebroso silêncio
e depois só silêncio
e silêncio.
mais nada...

Viera com a noite, a noite infinita, a noite que nascera do sonho,
Viu homens tantos de joelhos ao chão, de espada largada e elmo na mão
Olhando o céu e pedindo a Deus algum milagre

- mas Deus não viera, e a eles
Fora negada a entrada nos Céus

Viera do medo. Brotou desse chão áspero regado a medo.
Criou galhos, raízes maiores que o mundo;
Com o tempo, dera frutos - saborosos frutos
E deles todos comemos...

E assim semeara o medo no mundo inteiro
E propagara esse tempo sem fim
Esse tempo de putrefação...

Manoel Guedes de Almeida
Teresina-PI, 13 de setembro de 2009.

Dejavù


Dejavù

Saio na rua a vagar, procurando as migalhas
De um passado perdido. Procurando
A esperança que juro ter tido quando criança. Procurando
A inspiração que fizera pulsar meu peito outrora. Procurando
Os sorrisos que perdi na escuridão destas lembranças,
As promessas que esqueci em meio a tantas conversas
Os poemas que fiz a giz no piso das calçadas

Saio devagar rumo a não sei onde
Os caminhos só me levam a outros caminhos
- e são todos iguais

Saio sem pressa... a noite dissolveu a todos,
A cidade embriagou o espírito do homem.
Ando sem pressa... lareira que se desfaz, fogo esparso,
Passado em chamas...
- castelos, cartas, girassóis singelos...
E a vida a palpitar frenética
como quem me chama.


Manoel Guedes de Almeida
Teresina-PI, 12 de setembro de 2009.