quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Super - Mário

 Agora já é hora de por aqui alguém que realmente sabe o que e como falar o que sente:

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

Mário Quintana

Ouro de tolo

 

     Passei muito tempo de minha vida procurando por um amor
--- primeiro fora, depois dentro de mim --- que correspondesse às
expectativas que eu, como humano, criava. Como se é de esperar, meu
empenho nisto não durou muito tempo: decidi, segundo uma razão que há
muito não usava, que o mais sensato seria parar de pensar que as
coisas poderiam um dia dar certo, parar de acreditar em Branca de
Neve, em Gnomos ou em Bom Velhinho, e da mesma forma parar de
acreditar nesse troço que muitos insanamente denominam amor.
    Infelizmente ocorreu algo que mudou meu ponto de vista em relação
ao mundo, ao meu mundo. E agora, em vez de acreditar que não existe
amor, acredito que ele, tal como o ouro, não se pode encontrar em
todos os lugares, é algo raro. Seria loucura crer em sua
inexistência apenas porque em umas poucas buscas não foi o possível 
encontrar. O fato é que existem mais de 6 bilhões de pessoas no
mundo e que só uma delas nos completa.A conseqüência óbvia disto é
que não deve ser muito fácil encontrá-la.
    É incrível ouvir uma música e poder decifrar códigos-fênix nas
entrelinhas. É incrível ver o invisível e conter o imensurável numa
urna pequenina que cabe na palma da mão.
    E é por isso que te agradeço, por você ter me permitido ver o que
ninguém mais via, por você ter me permitido observar um vôo de
passarinhos antes do disparo da arma, as flores brotarem antes do passar do caminhão.             
 Em fim, por você me guiar por esse mundo e ser um dos poucos motivos de
minha felicidade, porém um motivo que imprime a mim uma felicidade
extrema que se espalha ao infinito, porém com um estranho efeito
colateral: um sorriso constante e abobalhado na cara.
     Só temo que isso tudo seja só mais um produto de minha mente
conturbada, como todo o resto das coisas no mundo.

Manoel Guedes de Almeida

Tu

Tu

Tu és todos os livros,
Todos os mares,
Todos os rios,
Todos os lugares,
Todos os dias e todas as horas.
Tu és todo o pensamento,
Todas as manhãs de sábado passadas na praia
Todos os lábios...
Todas as certezas... e beijos e desejos...
És assim porque não sabes seres de outra maneira.
Tu és todas as noites em todos os quartos,
Todos os ventos em todos os barcos.
Todos os dias em toda cidade...
Tu és o começo de todos os fins...
Tu és todos os sons de todo o silêncio,
Por isso eu te espero,
Por isso te quero
Por isso te penso.

Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, 22 de abril de 2008.

O corredor polonês

O corredor polonês

Ausência.
Sou ser transbordado de vazio.
Repleto do maior de todos os males humanos, o nada.
Ergo a cabeça perante aquela janela
Ela está ali, portal aberto pro mundo,
Cravada na parede, Portinari móvel.
Há pessoas lá dentro e há vida lá fora.
Há bocas unidas e mãos que se dão
(e que não são as nossas).  
Seu Manuel vende rosas rubras
Debaixo do poste da esquina,
Cinco reais o maço.
Mas só quero uma, só uma basta...

Tudo é tão sóbrio.
Tudo é tão racional.
Tudo é tão certinho.
Deito cá, leitor de sonhos,
Sobre papéis por loucos rabiscados
Que temem que o tempo dissolva tudo que é imagem,
Tudo
Que é ilusão.

Nos prédios há pessoas que gritam
Que acreditam ser prédios
E que se amam nos prédios...
Mas aquela luz vermelha
Atrai-me como um inseto envolto em escuridão...
Que me dizes, Freud?!
Sou ser semimorto
Diante do portal pontual inalcançável
De luz...


Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, 04 de abril de 2008.

Pintando o ar

Pintando o ar

Daí eu estendi minha mão e tateei o vão
Tentando tocar teu rosto no vazio
E senti tua mão sobre minha mão e arrepios
Como se teus lábios, como antes, tocassem os meus.
Então fechei os olhos pra te ver sorrir e vir
Pra perto do meu lado
Onde sorrisos bobos se misturam ao ar...
E o pincel com diversas cores de tinta
Pintava olhares, odores, caricias,
Num quadro-corpo invisível que só eu sei pintar.
Quantas vezes eu,
Repleto de vazio,
Fechei os olhos pra te ver...
Voltar?...

Manoel Guedes de Almeida
Santos - 2008

sábado, 23 de outubro de 2010

A solidão e eu


Duas músicas para vocês:
http://www.youtube.com/watch?v=nN5mx6-U7HE&feature=player_embedded#!

http://www.youtube.com/watch?v=5JdVrgJ5r2o&NR=1


A solidão e eu

Penso que talvez aqui resida o fim deste blog. Ultimamente minha criatividade, como se não houvesse nada dentro de mim, deixa-me à míngua de meu próprio sofrimento. Nunca fui assim, e acho que apenas por isso ainda esteja aqui respirando, mesmo que pausadamente, e apenas por isso minhas mãos ainda se movam a esmo no mesmo compasso que pulsa meu peito. O poema roubou de mim a coragem para o suicídio, a adaga, e agora ele se foi pelo vão que ficou, e a única coisa que resta é a vontade insana de fugir, talvez Santos, o inferno, talvez o pampa. Longe muito além dos meus pensamentos.
Dái eu chego em casa, é noite alta e o cansaço transborda de mim por cada poro.  Quero fugir, mas a solidão me envolve em seus laços como um cachecol, e me enforca.  Sento na cama; olho o espelho e a alma desfigurada que se reflete dele. Tudo é silêncio e vento, a solidão que adentra pela janela entreaberta da noite passada, noite de vivificação. 
Estranhamente, eu não conseguia por um minuto tirar da cabeça a imagem dos meus fantasmas, das pessoas que matei. Elas me perseguem nas paradas, nos pensamentos, em cada folha em branco e fio de memória, em cada reflexo ou sonho de morte.
Ao final desse período de evasão, o mundo me caiu como concreto. Fechei os olhos e, quando os abri, vi que o sofrimento ainda não se dissipara. Ainda estava ali, me alentando como única companhia que resta ao último homem em Auschwitz.
Levantei-me, fui lentamente até a sala. Estava escura e o vento que entrava pela sacada anunciava a nova estação. Procurei qualquer coisa que pudesse me levar dali, filmes, kafka, House, tudo estava tão distante e naquele momento minha alma tão pouca não mais me bastava. Resolvi apenas sofrer, deixar que tudo viesse, como quem fecha os olhos instantes antes da colisão. Fiquei lá, estirado no chão por algum tempo, muito tempo, e o silêncio me perturbava como um peso, me sufocava como uma prisão.
Levantei-me, o chão ainda estava no mesmo lugar. Os livros de anatomia ao meu redor, as anotações, os poemas rabiscados. Tudo estava como estava antes e como havia de ser. Era mais de meia noite. O tempo tinha passado, apesar de meus protestos o tempo tinha passado e não levara consigo minha memória.
Procurei por amigos, encontrei vários. Distantes ou mortos. Senti cheiro de sangue. Minhas mão estavam úmidas, meus olhos também. Depois de três anos, não achei que eu ainda fosse capaz de chorar por qualquer motivo que fosse. Não vejo racionalização nisto. Mas chorei, mesmo sem identificar o gosto das lágrimas, o cheiro da dor. Era apenas o vazio e o vazio doía como um punhal. Em outros tempos, talvez Ismália eu fosse ou talvez apenas um homem-bomba.

... (note descarregando) - depois termino.


    Manoel Guedes de Almeida 
Teresina - PI, 23 de outubro de 2010.





quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Meio sem saber


Meio sem saber
(Manoel Guedes de Almeida)
Muito andei pelas ruas/ sem guardar nomes/ sem saber pra onde trilhar
Muito andei, sabe-se lá onde/ sem saber aonde/ bangladeshi/ novos horizontes
Puteiros suspensos dos jardins de ChanGrilah /
meus passos sobre as asas do passado/ querubins querem me decapitar
Andei pelas avenidas/ becos úmidos/ sonhos sumidos / fé, Bragavagitá
Pegadas paralelas, highway deserta/ mundos paranóicos, /faces parabólicas, diabólicas

Este lugar comum/ esta ânsia/
Este vagar sem rumo,/ desesperança/
Amigo, decerto /
O sol um dia nascerá mais calmo e na varanda o orvalho anunciará
Que o mundo estará/ deserto

Mas amigo eu acordo e na rua há o mesmo semáforo/
meus pés nus sob o asfalto e o sangue negro visto do alto/
Escorre sobre o altar/
O brilho alto me diz/ “olhe pro lado e sorria, infeliz!”
mas nunca dado a tanto crédulo/ ranquei coração insano do peito e talvez
você o faça feliz

desfiz tudo que havia feito/ razão e direito/ destino
de concreto  se não fosse feito/ dobrei-me por inteiro/ me rendi
me fincou coração novo no peito feito um punhal/
não houve jeito e sem jeito,/ já era tarde,/ sorri!

Mas não acredita em declarações de amor/ acupuntura, hipnose e filmes de terror/
E quando me pergunto que barato eu tomei /
vem uma voz doida de dentro mim de e me diz “nada”,/
 mas não sei nadar, alter ego infeliz/ 
Mesmo assim, untei o peito com teu mito
Porque o mito não derrete ao Sol
É que, assumo, sou todo razão, mas no fundo
Quero no abraço meu teu coração 


Teresina – PI, 28 de agosto de 2010.

Dor

Dor

E quando penso que algumas coisas não são pra sempre
Me dói o peito
Porque é como se parte minha morresse com cada sentimento que passa
Porque na verdade eles nunca passam ...
Então serei eu ao final da vida
Uma cama vazia, um chão repleto de livros e lágrimas, e a solidão ao redor de tudo,
Serei apenas uma célula de equação vazia

Então, a dor é isto?!
Esse embrulho na alma, esse vazio infinito?
Esse sentimento disperso num mundo disperso
Essa vontade de correr da vida?

Mas meus pés não se movem
E uma vontade imensa de cair me envolve
Deito no chão, o chão não me basta
Preciso de algo mais profundo, algo que me faça adormecer
O chão me escapa aos pés,
mas meus olhos estão abertos enquanto você dorme
eu de perto sinto
seu cheiro ainda nos meus lençóis

Essa intoxicação, essa vontade insana de desbravar o mundo
Como se eu fosse bússola e qualquer caminho levasse ao mesmo caminho
Se não houvesse se não um destino e os meus caminhos me levassem a você

Primeiro te afastei, pra você vê, logo mais te abracei
Depois éramos um só ser sorrindo, e vê
A imensa falta que você me faz


Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 06 de outubro de 2010.

Solidão


Solidão

Solidão, pra quê?
O anticristo sonolento à cabeceira
As nuvens anunciando a estação...
E este inferno.
Solidão, pra quê?
As bancas de revistas, as noites perdidas nas praias, as pistas
Os filmes sem nexo surrealistas, com o amor o primeiro contato,
o ardor e o ato

Solidão, por quê?
E entras pela janela fechada, penetra nos poros da pele e se dissolve
Em cada gota de suor e sangue que resta. Solidão por quê?
Por que me leva dos abraços e mata, paulatinamente, tudo que é vivo e capaz
Por que só posso ser solidão? Por que me fizeste matar a todos que amei?

Trago comigo o fardo do meu primeiro poema lido:
- a gente sempre destrói aquilo que ama.

E talvez nem precise ser feliz, basta não sofrer.


Manoel Guedes de Almeida
27 de setembro de 2010.
Teresina – PI