
O altar e a fábrica
Não, tuas rosas não me bastam mais.
Depois de fragmentado o cálice do mundo
Desfizera-se todo o amor, pois pra qualquer amor
Não há mais espaço no mundo
Cala-te! A vida não é digna de palavras!
Nossos filhos choram, eu os ouço.
Nosso amor está findado, eu sei.
Transbordado de amor e desnutrido
Vejo que tudo é muito pouco para poucos
E tão sonho para os que sonham uma vida
na falta de algo real na qual se apoiar
Vede: Deus está como nós, faminto.
O céu está seco como este solo onde plantas, e nada brota.
Seus olhos estão como os nossos, sedentos por qualquer frescor.
Vede: Deus ajoelhado pede esmolas ante as fábricas
Roga aos céus tão cinéreos alento qualquer
E tenta adentrar no Reino dos Céus, mas custa caro,
E nada tem.
Deita como nós, só. A noite é toda silêncio e espreita.
Os medos são muitos, a fome também.
E chora sem que nenhuma lágrima dissolva
A sujeira podre dessa vida.
Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, terça-feira, 16 de junho de 2009.
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