quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Eterno Fevereiro



Eterno Fevereiro



É meia-noite. Tudo começa.

Pessoas dançam embaladas pela música. Tudo é música e embalo.

Estão todos embalados, já nascem embalados.

[mentes embaladas

Na onda do céu.



Aqui perto,

Por traz dos grandes muros e das cercas eletrificadas

Por traz das grades nas janelas

[que lhes protegem do grande mal

Fiéis carneirinhos seguem em feliz procissão,

Se apóiam nos joelhos com as mãos,

Olham pra cima, fazem carinha de anjo

E gritam “chão chão chão!”

E tudo é “Amém”

E tudo é “divino”

Até a comédia do funck de Jesus menino.



E o carnaval começa.

Ainda é meia noite lá fora. O tempo não passa.

As pessoas sim, essas passam

E são tantas, tantas pernas e corpos vazios

Na ausência de si, enchem o copo. Se enchem se si sem que percebam.



O álcool banha a avenida. Tudo é extrema euforia.

Não distante dali, no HTN,

Corpos são costurados e suturas cranianas são abertas

Enquanto outros tantos gritam em silencio

Quase anestesiados pela adrenalina,

São os que sangram, pendem e caiem ao chão,

E lá morrem sem que ninguém se importe.

Nem eles.



Pela manhã, ainda é meia-noite.

Portas fechadas. Olhos também. Sempre estão.

Só há ressaca

E o anúncio do aumento dos impostos.





Manoel Guedes de Almeida

Floriano-PI, terça-feira, 03 de fevereiro de 09.