Eterno Fevereiro
É meia-noite. Tudo começa.
Pessoas dançam embaladas pela música. Tudo é música e embalo.
Estão todos embalados, já nascem embalados.
[mentes embaladas
Na onda do céu.
Aqui perto,
Por traz dos grandes muros e das cercas eletrificadas
Por traz das grades nas janelas
[que lhes protegem do grande mal
Fiéis carneirinhos seguem em feliz procissão,
Se apóiam nos joelhos com as mãos,
Olham pra cima, fazem carinha de anjo
E gritam “chão chão chão!”
E tudo é “Amém”
E tudo é “divino”
Até a comédia do funck de Jesus menino.
E o carnaval começa.
Ainda é meia noite lá fora. O tempo não passa.
As pessoas sim, essas passam
E são tantas, tantas pernas e corpos vazios
Na ausência de si, enchem o copo. Se enchem se si sem que percebam.
O álcool banha a avenida. Tudo é extrema euforia.
Não distante dali, no HTN,
Corpos são costurados e suturas cranianas são abertas
Enquanto outros tantos gritam em silencio
Quase anestesiados pela adrenalina,
São os que sangram, pendem e caiem ao chão,
E lá morrem sem que ninguém se importe.
Nem eles.
Pela manhã, ainda é meia-noite.
Portas fechadas. Olhos também. Sempre estão.
Só há ressaca
E o anúncio do aumento dos impostos.
Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, terça-feira, 03 de fevereiro de 09.