terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Foi



Prepotente é quem acha que pode fazer algo que ninguém nunca fez. Louco é quem tenta fazer algo que ninguém nunca fez. Gênio é quem faz algo que ninguém nunca fez. Por isso, nesse processo continuo em que evolui o mundo, os homens de idéias e ideais são taxados prepotentes, e são rejeitados; loucos, e são oprimidos; gênios, e são endeusados.




Manoel Guedes de Almeida

Santos-SP, 25 de junho de 2008.




Clássico do futebol brasileiro...

O suor dos olhos


O suor dos olhos


"A natureza nunca suportou... nós apenas nunca nos importamos com isso senão agora, que os sinais que ela nos fornece interferem em nossas vidas medíocres. Convenhamos, senhores, o mundo não se importa com nenhum Mundo além de seu mundinho particular. Cuidar do que é maior e nos cerca é só reflexo de nosso ego ferido. Trataram-nos como mocinha e tiraram-nos a saia em público. Ficamos vermelhos, mas nem percebemos. O mundo está quente, amigos, e o olhos já suam. Despimo-nos a alma, e não estamos nem aí!"






Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, sábado, 19 de julho de 2008.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Hominídeo


Hominídeo

Os homens têm sonhos casas e carros.

E dormem em camas.


De madrugada,

Um animal insano e faminto,

Sem casa ou carro ou sonhos

Não dorme

[dormir é privilégio de humanos


Revira o lixo. Colhe latinhas.

Acorda a todos e fecha os olhos,

Mas não sonha.




Manoel Guedes de Almeida

Floriano-PI, domingo, 15 de fevereiro de 09.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Gênesis


Gênesis



Um dia, quando ainda não havia dia algum,

E tudo era a ausência de tudo

Dissera Deus:

Que se faça o caos. E o caos se fez

Da eterna desordem das coisas.

E o caos então criou o homem.

E o homem, no balanço de tudo que não havia,

Frustrado por não possuir o que não possuía

Criou um deus.

E o Pai, tristonho, abandonado,

Inutilizado e esquecido pela nova crença,

Que a tudo explica e a tudo esconde e esconde-se na fé,

A ciência do espírito e a essência da ilusão,

Está eternamente descansando

Em sua tenda de nuvem em algum lugar de algum mundo

Ou em uma estrela qualquer,

Observando, de longe,

Nossa incessante busca e tola fé.



Não. Deus não está em todos os lugares.

Não está aqui agora. Nem à nossa volta nos cuidando.

Já foi há muito por nós expulsado.

E, insensatos, um imã de geladeira à nossa imagem idolatramos.

E por ele rogamos,

E a ele entregamos a alma de nossos filhos

A ele, perdidos, pedimos perdão,

E cremos sermos perdoados.

E a ele entregamos nossas próprias almas...,

Reflexo de nosso ego inflado.



Esculpimos a nós mesmos no sabão,

Apagamos a luz e fingimos tê-lo perdido.

Se ascendemos uma vela, o encontramos.

Felizes em nossa ilusão, erguemos altar e fazemos oração.

Depositamos ali todos os nossos sonhos,

O que devíamos levar conosco para todo o sempre.



É que em nossas mentes hipócritas

Não há espaço algum a Ele agora.

Se estivesse aqui no mundo, não o procuraríamos tanto.

Ele está lá, em algum remoto canto, nos observando,

E nós cá, baratas tontas,

Venerando nosso próprio espelho,

Tentamos voar e alcançá-Lo com as asas que criamos. Tolos.

Não sabemos pra onde voar. E se lançamo-nos ao ar,

Perdemo-nos sem rumo

No infinito espaço de nossas falsas esperanças.



Manoel Guedes de Almeida

Santos-SP, terça-feira, 29 de julho de 2008.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Aithếr


Aithếr

Para Síntia, com S.

O tempo passa apressado. E este espaço apertado...

Os pés seguem. O sino toca.

Ao longe,

A igreja abre as portas


O sol. O suor nas testas.

As lágrimas nos rostos.

O sino toca.


Devagar, o carro passa.

Devagar, as pessoas passam.

Também devagar

as pessoas calam

[ninguém nota.


O galo canta. A noite cai.

Os olhos fecham.

Há ódio nos olhos e lágrimas também.

O sino cala. Sinal.


na calçada, de cabeça baixa

um menino chora

tenta falar. Emudece

trêmulo. Pernas passam

tudo passa.

[ele ainda chora


Sentada a seu lado

velhinha de sorrisos singelos

e boca escassa de dentes diz

não chore não, menino

A vida tem dessas coisas...

As pessoas sempre vão...


ainda de cabeça baixa e olhar

perdido,

perguntou o menino à acolhedora morte

para quem a senhora tricota? E riu soluçando

sozinho e de face lavada


senhora,

alguém já disse que lhe amava?

Como?! Indagou surpresa.

Eu a amava... e ela se foi...

o menino ainda chorava

[a morte enchugava os olhos




Manoel Guedes de Almeida

Floriano-PI, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009.

Desbucólica



Desbucólica



Não,
Nesta noite não falarei de amor.
Não cortarei minhas mágoas
tornando-as mais suportáveis
Ou gritarei, ser insano,
disfarçando a dor que sinto nos versos que escrevo.
Não. Os versos não disfarçam a dor.
Sentar-me-ei nesta cadeira vermelha. De plástico. Fria.
Despir-me-ei todo.
Então, nu,
Descreverei minha desilusão com o mundo,

Varias vezes você vai chorar na vida.
Muitas mais,arrependido, após a morte.
Passarão por ti e olharão tuas feridas,
Sorrirão sem que percebas,
E passarão.

Ficaras desempregado. Gripado.
Terás carie. Mau hálito.
Infecção. Laringite.
Paixão.
Amor.
E tudo de novo.

Chorarás no banheiro.
Declarar-se-á só amor.
Serás ouvido às vezes. Mas tantas vezes
apenas ignorado.

Suarás frio nas despedidas. E ficarás ansioso no reencontro.
Tremerás as pernas ao primeiro beijo.
E chorarás um dia o abandono.
Mas,
Mas tu sobreviverás
Para que possas sentir tudo de novo.
A vida é um ciclo, caro amigo. A vida é um ciclo
e tudo acaba exatamente no mesmo lugar.


E então, um dia, velho,
Quando tuas lembranças já te pesarem no peito
E olhares pra traz já sem ilusão,
Perceberás, caro amigo,
Nascera, e te deram um nome e te nutriram de esperanças.
Mas crescera raquítico,
E agora percebestes, mas em vão,
Que ilusões não sustentam os homens.
Tentarás chorar, mas de rosto enxuto,
Fecharás os olhos,
E morrerás então.





Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, sábado, 2 de agosto de 2008.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

]Saudade[


]Saudade[

Para Síntia

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Eu... eu sofro...

Sobre o destino


Sobre o destino


Desci do carro apressado. Ela estava lá, com aquele vestido verde feio e aquele olhar profundo. Olhou-me nos olhos e pareceu enxergar minha alma. Fiquei quieto. Calado.
Apoiou seu joelho na borda de concreto da ponte velha por sobre aquele rio, o nosso rio, e ergueu-se, fazendo-se mais próxima do céu.


Era época de seca e se via um fio triste e solitário de água turva a cortar a areia branca aquecida pelo Sol, como uma única veia ainda a ousar alimentar a terra. E o vento era quente e insuportável, e me ardia o corpo ao toque, e lhe balançava os cabelos soltos como se a no céu voar.
Não senti desespero nem medo. Não senti nada.


Encostei-me lentamente. Tentei falar, mas não me saiu sequer uma única palavra. Queria convencê-la a não pular, dizer que ela é a pessoa mais importante de minha vida e por quem eu largaria tudo. Mas não disse. Queria puxá-la à força dali e repousá-la nos meus braços. Seu ser herói, seu anjo protetor. Mas não o fiz. Fiquei estático.


Escorreu pela sua face pálida. Passou pelos seus lábios que tremulavam. Mas não havia medo na sua face. Esperou por algum tempo no seu queixo fino. Acumulou-se um pouco, e finalmente caiu ao chão como em câmera lenta, e senti-me mera ameba impotente, incapaz de impedir a lágrima de quem eu amo. Incapaz de dizer o que eu sinto.
Sentei-me então ao seu lado, pendendo os pés ao vão. Fechei os olhos e senti o vento. Não mais me abrasava o rosto. Ela sentou-se junto a mim e o silencio nos cercou por um tempo, afagou-nos o rosto, pegou-nos no colo e disse-nos estar tudo bem. Mais seguro, repousei minha mão sobre a dela. Senti aquela mão na minha e a aliança que há muito a dera.


Disse então, dentre soluços incontidos, que eu estaria com ela para todo sempre. Não tentei entendê-la nem mesmo impedi-la. Ela estava ali e eu também. E só. Ela disse que me amava, mas que seria necessário. Mas não era necessário explicar. Eu não queria explicação alguma.


Lembrei de nossas conversas malucas e pedidos de casamento inesperados. Lembrei-me naquele instante de toda a minha vida. Sonhei ali, novamente, todos os nossos sonhos passados. E chorei, mas as lágrimas sumiam antes que tocassem o chão. "Queria uma casa no lago", disse baixinho. Ela me disse "Também". "Queria um cachorro e filhos que brincassem com ele". Ela me disse "Também". Perguntei do futuro que construiríamos juntos. Ela me respondeu ser impossível, e me pediu perdão. Mas não havia crime algum a ser perdoado. Disse que a amava muito. Ela balançou a cabeça e disse "eu sei". E se calou.


Não ousei perguntar o motivo. Acho que não suportaria a resposta. Mas fiz promessas e eu sempre às cumpro.
Ergueu então a cabeça, de leve, e olhou-me nos olhos. Disse-me "te amo muito" e pediu para que eu nunca a esquecesse. E senti um aperto mais forte de sua mão na minha. Um adeus escondido no toque. Beijei-a o rosto e depois toquei seus lábios com os meus. Disse-a "nunca".


Pendeu seu corpo e largou-se ao ar. Eu fui junto.


Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, quarta-feira, 30 de julho de 2008.

Ensaio sobre as coisas vivas



Pensando na vida, meu filho?

Mas que vida, tio?! Depois dos oito anos

e do primeiro crack

a gente aprende,

Não há vida alguma.

A vida, hoje em dia,

(como se houvesse outra vida)

é dissolvida sob pressão na coca-cola.

Escapa a cada gole. Arroto.

Por fim,

Viva o lado coca-cola da vida.




Manoel Guedes de Almeida

Floriano-PI, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009.



Messiânica





Messiânica

Quero sentir teu toque a desbravar meu corpo.
Tua mão a tocar a minha. Levemente.
Teu silêncio
A dizer que me amas,
Tuas mentiras mais honestas.
Se me amas?
Pouco importa.

Olhe-me nos olhos,
bem no fundo.
Senti-los-ei a contemplar os meus.
mas meus olhos são feios e fechados. Sutura.
e os teus inexistentes.

Olha-te então nos meus olhos, Narciso,
Fazeis deles lago. Cristalino.
Mergulha-te.
Flutua.
Debate. Aspira. Afoga.

Dizes que me amas e juras sentir o que não sente.
Ensaia e chora.
Meus dedos enxugam teu teatro.
Encena o Ato, do palco alto
Juras ser para sempre
[e se vai.
Eu finjo ser feliz. Você também.



Manoel Guedes de Almeida Floriano-PI,
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Eterno Fevereiro



Eterno Fevereiro



É meia-noite. Tudo começa.

Pessoas dançam embaladas pela música. Tudo é música e embalo.

Estão todos embalados, já nascem embalados.

[mentes embaladas

Na onda do céu.



Aqui perto,

Por traz dos grandes muros e das cercas eletrificadas

Por traz das grades nas janelas

[que lhes protegem do grande mal

Fiéis carneirinhos seguem em feliz procissão,

Se apóiam nos joelhos com as mãos,

Olham pra cima, fazem carinha de anjo

E gritam “chão chão chão!”

E tudo é “Amém”

E tudo é “divino”

Até a comédia do funck de Jesus menino.



E o carnaval começa.

Ainda é meia noite lá fora. O tempo não passa.

As pessoas sim, essas passam

E são tantas, tantas pernas e corpos vazios

Na ausência de si, enchem o copo. Se enchem se si sem que percebam.



O álcool banha a avenida. Tudo é extrema euforia.

Não distante dali, no HTN,

Corpos são costurados e suturas cranianas são abertas

Enquanto outros tantos gritam em silencio

Quase anestesiados pela adrenalina,

São os que sangram, pendem e caiem ao chão,

E lá morrem sem que ninguém se importe.

Nem eles.



Pela manhã, ainda é meia-noite.

Portas fechadas. Olhos também. Sempre estão.

Só há ressaca

E o anúncio do aumento dos impostos.





Manoel Guedes de Almeida

Floriano-PI, terça-feira, 03 de fevereiro de 09.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


[Poema bobo em construção]

Se há chuva,
Molha.
Se há chão, no chão que há
Rola.
Se há face
e boca e olhos,
Treme um pouco, um pouco também sorri,
Cai e chora.

Se há tempo,
Vive.

se há lama,
Suja.

Se tenho voz,
O mais alto que posso,
grito.

Filósofo da vida?

Cala a boca,
deita e rola e grita!


Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 26/01/2009