Prepotente é quem acha que pode fazer algo que ninguém nunca fez. Louco é quem tenta fazer algo que ninguém nunca fez. Gênio é quem faz algo que ninguém nunca fez. Por isso, nesse processo continuo em que evolui o mundo, os homens de idéias e ideais são taxados prepotentes, e são rejeitados; loucos, e são oprimidos; gênios, e são endeusados.
"A natureza nunca suportou... nós apenas nunca nos importamos com isso senão agora, que os sinais que ela nos fornece interferem em nossas vidas medíocres. Convenhamos, senhores, o mundo não se importa com nenhum Mundo além de seu mundinho particular. Cuidar do que é maior e nos cerca é só reflexo de nosso ego ferido. Trataram-nos como mocinha e tiraram-nos a saia em público. Ficamos vermelhos, mas nem percebemos. O mundo está quente, amigos, e o olhos já suam. Despimo-nos a alma, e não estamos nem aí!"
Manoel Guedes de Almeida Santos-SP, sábado, 19 de julho de 2008.
Não, Nesta noite não falarei de amor. Não cortarei minhas mágoas tornando-as mais suportáveis Ou gritarei, ser insano, disfarçando a dor que sinto nos versos que escrevo. Não. Os versos não disfarçam a dor. Sentar-me-ei nesta cadeira vermelha. De plástico. Fria. Despir-me-ei todo. Então, nu, Descreverei minha desilusão com o mundo,
Varias vezes você vai chorar na vida. Muitas mais,arrependido, após a morte. Passarão por ti e olharão tuas feridas, Sorrirão sem que percebas, E passarão.
Ficaras desempregado. Gripado. Terás carie. Mau hálito. Infecção. Laringite. Paixão. Amor. E tudo de novo.
Chorarás no banheiro. Declarar-se-á só amor. Serás ouvido às vezes. Mas tantas vezes apenas ignorado.
Suarás frio nas despedidas. E ficarás ansioso no reencontro. Tremerás as pernas ao primeiro beijo. E chorarás um dia o abandono. Mas, Mas tu sobreviverás Para que possas sentir tudo de novo. A vida é um ciclo, caro amigo. A vida é um ciclo e tudo acaba exatamente no mesmo lugar.
E então, um dia, velho, Quando tuas lembranças já te pesarem no peito E olhares pra traz já sem ilusão, Perceberás, caro amigo, Nascera, e te deram um nome e te nutriram de esperanças. Mas crescera raquítico, E agora percebestes, mas em vão, Que ilusões não sustentam os homens. Tentarás chorar, mas de rosto enxuto, Fecharás os olhos, E morrerás então.
Manoel Guedes de Almeida Santos-SP, sábado, 2 de agosto de 2008.
Desci do carro apressado. Ela estava lá, com aquele vestido verde feio e aquele olhar profundo. Olhou-me nos olhos e pareceu enxergar minha alma. Fiquei quieto. Calado. Apoiou seu joelho na borda de concreto da ponte velha por sobre aquele rio, o nosso rio, e ergueu-se, fazendo-se mais próxima do céu.
Era época de seca e se via um fio triste e solitário de água turva a cortar a areia branca aquecida pelo Sol, como uma única veia ainda a ousar alimentar a terra. E o vento era quente e insuportável, e me ardia o corpo ao toque, e lhe balançava os cabelos soltos como se a no céu voar. Não senti desespero nem medo. Não senti nada.
Encostei-me lentamente. Tentei falar, mas não me saiu sequer uma única palavra. Queria convencê-la a não pular, dizer que ela é a pessoa mais importante de minha vida e por quem eu largaria tudo. Mas não disse. Queria puxá-la à força dali e repousá-la nos meus braços. Seu ser herói, seu anjo protetor. Mas não o fiz. Fiquei estático.
Escorreu pela sua face pálida. Passou pelos seus lábios que tremulavam. Mas não havia medo na sua face. Esperou por algum tempo no seu queixo fino. Acumulou-se um pouco, e finalmente caiu ao chão como em câmera lenta, e senti-me mera ameba impotente, incapaz de impedir a lágrima de quem eu amo. Incapaz de dizer o que eu sinto. Sentei-me então ao seu lado, pendendo os pés ao vão. Fechei os olhos e senti o vento. Não mais me abrasava o rosto. Ela sentou-se junto a mim e o silencio nos cercou por um tempo, afagou-nos o rosto, pegou-nos no colo e disse-nos estar tudo bem. Mais seguro, repousei minha mão sobre a dela. Senti aquela mão na minha e a aliança que há muito a dera.
Disse então, dentre soluços incontidos, que eu estaria com ela para todo sempre. Não tentei entendê-la nem mesmo impedi-la. Ela estava ali e eu também. E só. Ela disse que me amava, mas que seria necessário. Mas não era necessário explicar. Eu não queria explicação alguma.
Lembrei de nossas conversas malucas e pedidos de casamento inesperados. Lembrei-me naquele instante de toda a minha vida. Sonhei ali, novamente, todos os nossos sonhos passados. E chorei, mas as lágrimas sumiam antes que tocassem o chão. "Queria uma casa no lago", disse baixinho. Ela me disse "Também". "Queria um cachorro e filhos que brincassem com ele". Ela me disse "Também". Perguntei do futuro que construiríamos juntos. Ela me respondeu ser impossível, e me pediu perdão. Mas não havia crime algum a ser perdoado. Disse que a amava muito. Ela balançou a cabeça e disse "eu sei". E se calou.
Não ousei perguntar o motivo. Acho que não suportaria a resposta. Mas fiz promessas e eu sempre às cumpro. Ergueu então a cabeça, de leve, e olhou-me nos olhos. Disse-me "te amo muito" e pediu para que eu nunca a esquecesse. E senti um aperto mais forte de sua mão na minha. Um adeus escondido no toque. Beijei-a o rosto e depois toquei seus lábios com os meus. Disse-a "nunca".
Pendeu seu corpo e largou-se ao ar. Eu fui junto.
Manoel Guedes de Almeida Santos-SP, quarta-feira, 30 de julho de 2008.
Ensaio sobre as coisas vivas
Pensando na vida, meu filho?
Mas que vida, tio?! Depois dos oito anos
e do primeiro crack
a gente aprende,
Não há vida alguma.
A vida, hoje em dia,
(como se houvesse outra vida)
é dissolvida sob pressão na coca-cola.
Escapa a cada gole. Arroto.
Por fim,
Viva o lado coca-cola da vida.
Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009.
Quero sentir teu toque a desbravar meu corpo. Tua mão a tocar a minha. Levemente. Teu silêncio A dizer que me amas, Tuas mentiras mais honestas. Se me amas? Pouco importa.
Olhe-me nos olhos, bem no fundo. Senti-los-ei a contemplar os meus. mas meus olhos são feios e fechados. Sutura. e os teus inexistentes.
Olha-te então nos meus olhos, Narciso, Fazeis deles lago. Cristalino. Mergulha-te. Flutua. Debate. Aspira. Afoga.
Dizes que me amas e juras sentir o que não sente. Ensaia e chora. Meus dedos enxugam teu teatro. Encena o Ato, do palco alto Juras ser para sempre [e se vai. Eu finjo ser feliz. Você também.
Manoel Guedes de Almeida Floriano-PI, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009.