quarta-feira, 19 de maio de 2010

O SENTIMENTO DISPERSO

O SENTIMENTO DISPERSO

Se você sentisse o mundo como eu sinto
Talvez não me pedisse pra voltar
Talvez não pedisse pra eu olhar pra trás

Se você visse o mundo como eu vejo
Talvez notasse o monstro que guardo em mim
E que alimento com meus sonhos e desejos

Se você sonhasse os meus sonhos
Talvez me pedisse algum perdão
Mas eu não lhe perdoaria
Porque não há perdão algum em mim – o amor é isto
E agora eu o compreendo.

O mar não me parece mais tão infinito.

Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 26 de abril de 2010.

O CASTELO E O MAR

O CASTELO E O MAR

Toda nova forma de visão é útil
Toda forma nova de sentir é fútil
Ver. Sentir. Cegar-se.
E a razão que nos leva embora. E me vou, de leve.
E agora?

Por isso essa distância vã entre nossos corpos
Por isso esse castelo de areia, na areia
Por isso essas tuas curvas de sereia nua, de areia
E a vida que segue assim, esse eterno separar-se
E se dissolve assim... o tempo perseguindo a todos...

E te desejo e te afasto. Paradoxo entre amor e vida.
Talvez apenas imbecil metafísica e indiferença
- criança cega, em busca da Terra do Nunca.

Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 02 de maio de 2010.

Realejo

REALEJO

E empunhei minha alma
e a dispus na linha do teu corpo, e a disparei
mesmo sem saber que as almas matam pessoas, e sem crer
na tua humanidade

- quando moço, pensava que num corpo cabiam duas almas.
E então teu corpo pendeu, líbero, suspenso no ar...

A vida parecia tão breve, tão mais simples.
Tão transbordada de explicações inteligíveis e ampulhetas vazias...
Palhaço cego, surdo e mudo..., Deus louco, cientista lírico absorto
Em seu amor pelo mundo, morto por este amor pelo mundo...

E, talvez, com o restinho de amor que me resta, embalar tua prece,
Talvez eu devesse rezar antes de dormir... talvez você me traga um beijo
Um punhado de alegria ou o mundo inteiro – talvez seja apenas medo
Do escuro ou do amanhecer

Com o gostinho do amor, gostinho ínfimo que me resta ao anoitecer,
temperar teu rosto. Com a força que me sobra do amor, daquele amor
Que achei ter perdido nas trincheiras, enlaçar teu abraço, teu ar com o ar
que me resta antes de partir. Tocar teu tato
Com o tato que me resta antes de adormecer...

Talvez eu deva fugir desse cárcere vazio...

Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 18 de maio de 2010.