terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O corpo e o colo




O corpo e o colo

E se meu amor tiver passado
E dele só restar um anel negro que já não me cabe no dedo
E lembranças que já não me cabem na alma?

As músicas se erguem feito concreto
Seus lábios me vêm, seus olhos me vêem
Me contam histórias...
E posso tocá-las
Posso senti-las antes de dormir
E guardá-las rente ao peito como travesseiro
Como fleches antes da forca
Pulso antes da faca,
desfile de cegos e desfiladeiro.
Do pó ao pó. E possessao.

E se meu amor tiver passado...
Se tivesse ido de carro, ido de bonde
Se tivesse subido num disco voador
E levado consigo minha memória
Talvez houvesse saída, talvez restasse crença ou fé
Talvez eu aprendesse a voar
Ou implantasse bilhões de receptores no meu corpo
Que me fizessem sentir sobre minhas Gestalts
Desfiado toda a minha carne
Desfeito toda a minha esperança

Pinto sorriso numa folha de caderno em branco
E costuro na minha face antes de sair
Ensaio sentimentos e me saio bem
Morro um pouco a cada reencontro
E toda noite, me suicido.
Talvez um dia me convença que fui capaz
De ser feliz.

Manoel Guedes de Almeida
Floriano – PI, 18 de janeiro de 2011.