sábado, 12 de setembro de 2009

À poesia errante


À poesia errante


É por ti, criança, esta unção de água e sal

Com que escrevo

com que dissolvo

Por ti que fazia versos em folhas de bananeiras

Por ti, singela, por ti que amavas sem mistificação


Mas a poesia atroz teu espírito corrompera

Nutrira-te de posicionamento político

De análises inúteis e esperanças vãs

Enchera-te do mundo e pintara a tua face frente ao mal

- Tatuaram marcas de balas no teu corpo


Sobre tu, meu pequenino, criança que vi nascer,

Que pus nos braços, e ninei... pousou tão cedo

A dor humana [dor sem fim...], minha criança...

Pobrezinha... se perdeu sem rumo, sem nome,

- naufrago do mundo

Este vasto mundo mundo mim


Manoel Guedes de Almeida

Teresina-PI, 12 de setembro de 2009.

Isso de viver


Isso de viver

Que a vida é curta, devemos vivê-la logo
que o caminho é longo, devemos seguir depressa
que devo conter a ira que me mantivera vivo
que devo sorrir sempre, que devo dizer adeus
que devo dizer a Deus, que devo sorrir sempre
Que o mundo é sagrado, devemos untá-lo com as próprias mãos
que as mãos são pequenas e não bastam
devemos deixá-lo

Que devemos andar de bonde, que devemos andar depressa
que devemos afagar as flores que sob o Sol murcharam
- que deves ter sonhos...
Que o amor é eterno, que é ânsia que nasce do sono
[que isso tudo seja maior que o desespero - que nos baste

Que não podes ter preguiça
que deves ter casa e carro, sê funcionário público, tê mesa
que não podes amar sem medidas – que não podes viver sem medidas
que tens que regrar até a ultima gota de mel

Que está seguro, que estamos dispersos
Que estamos longe demais pra qualquer afago

Que a vida passa de bonde, que o bonde passa apressado
que a esperança passa, que passa o sonho
o ideal que tivera na infância
Que a pressa se foi no medo
Que o medo se dissolveu no mundo
Que o mundo girou sem ninguém.

Manoel Guedes de Almeida
Teresina-PI, 12 de setembro de 2009
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