quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Última ceia/O Paraíso niilista





A Última ceia/O Paraíso niilista

Meu filho, por que me temes?!
se sou carne e corpo e sangue e fogo como tu bem és
se tenho rugas e dor e desejos e fome como tu bem tens?!

Venha, dê-me um abraço!
Puxa a cadeira, senta-te (sinta-se)!
O jantar está na mesa. É aurora, eu entendo,
Mas ninguém suporta o mundo inteiro


desnutrido de esperanças

Está nervoso?! Não fiques não, meu filho,
Tu ainda não pereceste ante o próprio vão...
Estamos apenas conversando,
Tu e teu lago – nimbo,
Então, te indago, o que vês?

Não quero que creias em minha concretice
Sou lagartixa preta, pombo, formiga, vento, multidão.
Muito menos que ergas altar ao que pouco entendes
[entenda-me então, quero que entenda



Não alimentes o fogo com a cera de tua meninice
Os ventos são fortes, meu filho, e têm a triste sina
de nos deixar largados ao chão, e temes o chão
como a teu próprio Pai, mas sou apenas grão.

Não me procures nas fotos desbotadas de tua psiquê
Nem me revires nos tijolos de tua ciência
Enquanto ergues templos grades e jaulas [de ouro ou de barro]
- e unge - eu os desfaço

Sente-se (?) logo, meu menino,
Minhas mãos jazem incapazes ante o peso de teu Livro,
e teu filho espera e vê


o lago é grande e calmo e tênue. Lá,

construa um castelo, e o destrua
construa uma casa, e a destrua
uma vida inteira, e a destrua... todos os livros...

Então, nu,
Encontre a formiga sob a lâmina calma repousada
De tuas mais íntimas esperanças.



Manoel Guedes de Almeida
Teresina - PI, quarta-feira, 03 de junho de 2009.


Epitálamo




Epitálamo

Por que, meu senhor, queres que eu me cale?!
Se paras, não paro, não te suporto assim
e, cardinal, não me calo

Quando ficas assim, tristonho
E tentas entender o por quê
Das coisas todas deste mundo..., olha,

Não chores não..., não assim, calado,
Impotente ante as trevas do passado
Nem penses que o amor é vão

O amor não é vão!
O vão das coisas é apenas ausência
[ausentemos-nos, então!

Cá, por um instante apenas me calo.
Não abalo mais a porta da tua ciência
Nem mais espreito a fechadura do teu ser – seja
Ou escondo-me tal qual criança tonta
Sob o véu do inexistente
[existamos?!

Pois se este peito pulsa, tu bem o sentes.

Trava os lábios, emudece...
Tremula e beija.



Manoel Guedes de Almeida
Teresina - PI, 20 de maio de 2009.