quarta-feira, 12 de novembro de 2008


O que eu sou?

Um nada!
Um mero erro do acaso, um deslize da vida.
É simples assim!
De milhões de zóides
Eu,
Por azar,
Fui Ô escolhido...
Acho que eles combinaram,
Planejaram,
Arquitetaram maquiavelicamente
Deixar esse otário aqui
Seguir em frente
Vencendo aquela corrida
Que foi a única coisa que venci na vida
Pra eles ficarem no bem-bom
E eu aqui nessa droga
Sofrida
Acho que eles nem fizeram esforço pra ganhar de mim...
É isso!!!
Sou um erro!!!
Não era pra eu estar aqui...
Sou um deslocado
Um animal num zôo
Num lugar completamente diferente do seu habitat.
Eu sou o que eu sinto!

Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 21 de setembro de 2006.

Moderno modernismo




Moderno modernismo


Moderno, eu?!
Nunca!
Me recuso a ser moderno!
Sou lírio como
A flor do Lácio!

Quando pessoas morrem
De fome ou de frio
Revirando o lixo
Ou matam
Suas próprias mães,
Nasce uma flor frágil
Na pedra bruta,
A espera de um caminhão!

Moderno?!
Sou não!
Que se dane o modernismo
E tudo que é moderno,
Pois o homem sapiens,
Sempre sapiens,
Sempre sábio,
Sempre moderno,
Estuda formas rápidas
De se perder por nada.

Definitivamente
Não sou moderno...

E dos destroços dos prédios
Caídos
E dos corpos calados
Sujos
Faço as pedras pedregulhos
Do meu medieval castelo,
Onde viverei feliz
No antiquário
De minha eterna
Vida...

Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 24 de maio de 2007.

Clara

João amava Maria que gostava de Pedro
Que teve um caso com Lúcia
De onde nasceu Camila.

Lúcia largou a escola pra ser puta.
Camila entrou numa ONG
E aprendeu artes marciais orientais
Ensinava delinqüentes a matar sem deixar provas.

Pedro se tornou um grande empresário do ramo de entorpecentes.
Sempre sonhou em ser o dono da boca.
Que boca!
Teve que pagar uma puta grana em propina
Molhando as mãos dos canas
Que ainda queriam meter ele em cana
Pra ganhar alguma fama
No jornal da TV.

João, trabalhador honesto,
Não conseguiu ganhar a disputa por comida
No monte Sinai
(como é conhecido o lixão daqui).
Foi preso no dia 1º de abril
Por assalto a mão armada
Numa loja da área de Pedro.

Maria, que havia sido esquecida no caminho,
Pegou barriga aos dez,
Gonorréia aos treze,
AIDS aos quinze.
Morreu por uma bala perdida no assalto da loja em que trabalhava.

Clara, filha de Camila,
Chorou de fome por dias
Abandonada na porta de Luiz Augusto, prefeito,
Até que o sol escaldante e a fome e a sede
Silenciaram pra sempre
Aquele coração que só não nasceu
Porque nada nasce por aqui...

Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 06 setembro de 2007.

Primeiro poema (rascunho sem mudanças)




O Fênix

Uma vida surge,
E enquanto presa pelas grades invisíveis que à cerca
Está protegida,
Temporariamente protegida
Pois começa a libertar-se
Morrendo ao conseguir.

Revive com esperança
Como uma fênix revive das cinzas!
Tenta acostumar-se à atmosfera hostil
Mas morre...

Novamente a fênix volta à vida,
Mas começa a pensar no porquê de se dar ao trabalho de reviver
Se sempre morre
E que o único motivo de estar vivo é morrer
Mesmo que ainda em vida.

Então, a surgida vida, já púbere,
Não entende a essência de viver
Que lhe faz defunto a cada instante
E se mata para não mais reviver.

A fênix revive mais uma vez...
Mas agora suas chamas ardentes
Queimam incontroláveis nos olhos de uma linda mulher
E ele, arrependido, tenta voltar à vida,
Pois finalmente descobriu um sentido para viver.
No entanto, é tarde...
Está agora preso nos olhos apaixonados
Da pessoa por quem enfrentaria
O maior desafio de suas vidas:
Viver...


Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, Outubro de 2004.

Aposentadoria de um poeta


Aposentadoria de um poeta

Só por hoje,
Queria sentir-me plenamente
Mensurar esse sentimento de mundo que em meu peito ladra
Medir-me em unidades de infinito
Pesar a luz das flores
Sentir peso nisto
Sentir os grãos do sem-fim deslizarem por entre meus dedos
E voltarem suavemente à praia onde pessoas fazem anjos
E brincam de sentir amor.

Só por hoje,
Afogarei em minhas lágrimas
Toda a inspiração que não me tarda, retarda,
Farei barquinhos do papel de perfeição já rabiscado
E com meu leme de psicoses amorosas desvairadas
Guiar-me-ei com minha alma desgraçada
Do meu rio até teu mar.

Só por hoje,
Queria fazer do Mundo feriado
Onde cavalos alados tirassem férias pra trotar.
Nem fadas, nem desejos, nem heróis... Nem nada...!

Só por hoje,
Queria não viver mais poeta
Não ver o mundo poesia
Nem metaforizar os sentimentos
Transfigurando tudo em pensamento

Só por hoje,
Queria sentir com meus dedos
Deslizando em teu corpo
E olhar com meus olhos...
Sentir o cheiro e o gosto do mundo.

Idealizar tudo isso
É estar doente da vida.

Só por hoje...
Com meus braços e pernas e mente bem atados
Expugnado, conto a conto, desse Mundo Protetor
Queria ir, ao menos uma vez,
Sem nenhum título de escritor,
A uma praia real
E Viver só amor


Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 28 de junho de 2008.