quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um ponto no universo


Um ponto no universo

Lembro de poucas coisas da minha infância
Algumas cenas largadas pelo chão do meu quarto 
E poucas fotografias nas paredes. Ou nenhuma.
Talvez eu seja um daqueles extraterrestres
Tipo Clarck Kent, só que sem super-poderes.
Então, é isto: quero voltar pra casa.
Vou construir um disco voador e voltar pra Plutão
(sempre achei Plutão mais acolhedor)
Devo ter uma casa lá. Talvez família e uma bicicleta vermelha
Daquelas com rodinhas dos lados
E um quintal grande com muitas árvores.
Talvez lá as bocas sejam mudas 
E ninguém tenha corpo ou rosto
E não haja um cemitério no quintal de cada casa
Ou sangue na palma de cada mão
Talvez as leis sejam outras e seja possível amar
Talvez os aluguéis sejam mais baratos
Talvez não existam tantas bandeiras ou céus
E não se morra de fome, catástrofe, solidão.

Manoel Guedes de Almeida
Floriano – PI, 13 de janeiro de 2011.




Estas palavras

Se eu morresse amanhã
Talvez escrevesse uma carta como esta
E a enterrasse numa latinha de manteiga no fundo do quintal
Para que daqui há 500 anos alguém a encontrasse
E soubesse que existi, que de fato existi,
Que sorri como alguns e chorei como milhares
Que amei mesmo sem crer que fosse possível amar
Que sofri coisas pelas quais ele também sofrera
E que meu sangue fora da cor do seu
Que parti antes que compreendesse o peso do esquecimento
E pichei asas nas paredes do mundo
Na ânsia voar
Que ergui meu punho contra quem amei
E matei quantos eu pude
Que lutei contra quem não lutava e gritei
Enquanto feras devoravam meu corpo
Quando quis ser concreto e não pude
Quando meu grito ecoava como d’um bebê abandonado
Num vão de esquecimento e vazio
Todo simbolismo é resto sem gosto e um rosto
Não me restará mais

Manoel Guedes de Almeida
Floriano – PI, 13 de janeiro de 2011.