terça-feira, 24 de março de 2009

Este janeiro 32


Este janeiro 32

A guarnição estava pronta. Homens, cavalos, bombas.

Pela manhã, nos becos úmidos, fazem sinal, atiram pedras

ateiam fogo em tudo que possa ascender.

Gritos de avante sacodem cada rua da cidade. A noite fora para todos

tocos de vela, espreita, atenção, e medo.

Pelas frestas das janelas, ou pelas vidas semi-abertas, observavam o mundo.

Havia formigas ferozes e tantos outros bichos indizíveis. Revolviam a terra inteira.

Bombas e chamas faziam de tudo pedaço e tocha e, por fim,

deserto regado a suor e sangue.

E gritaram, e o grito ecoou como Santo Espírito a procura de hospedeiro ou abrigo

[Trabalhadores, uni-vos!...

Não sei de onde veio aquela voz, tampouco importa quem a tenha dito.

Não havia mais trabalhador algum.

Uma flor nascera no meio do asfalto. Era vermelha, ou branca, não sei.

Nascera raquítica, minguada, em meio a corpos inertes e rubros córregos. Mas afirmo-lhes, era de fato uma flor, e de longe, urubus engravatados lhe espreitavam a carne.

no fim do dia, sobre a praça pegajosa de sangue, herói de nada, tentei salvá-la

e rebentei-la o caule tentando arranca-la do ventre da terra

[onde a vida se desfaz-levantemos a nossa face

Os gritos ainda ecoavam em meio às trincheiras repletas de ausência,

E, para a minha surpresa,

A flor era de plástico.




Manoel Guedes de Almeida

Teresina-PI, terça-feira, 24 de março de 2009.