Este janeiro 32
A guarnição estava pronta. Homens, cavalos, bombas.
Pela manhã, nos becos úmidos, fazem sinal, atiram pedras
ateiam fogo em tudo que possa ascender.
Gritos de avante sacodem cada rua da cidade. A noite fora para todos
tocos de vela, espreita, atenção, e medo.
Pelas frestas das janelas, ou pelas vidas semi-abertas, observavam o mundo.
Havia formigas ferozes e tantos outros bichos indizíveis. Revolviam a terra inteira.
Bombas e chamas faziam de tudo pedaço e tocha e, por fim,
deserto regado a suor e sangue.
E gritaram, e o grito ecoou como Santo Espírito a procura de hospedeiro ou abrigo
[Trabalhadores, uni-vos!...
Não sei de onde veio aquela voz, tampouco importa quem a tenha dito.
Não havia mais trabalhador algum.
Uma flor nascera no meio do asfalto. Era vermelha, ou branca, não sei.
Nascera raquítica, minguada, em meio a corpos inertes e rubros córregos. Mas afirmo-lhes, era de fato uma flor, e de longe, urubus engravatados lhe espreitavam a carne.
no fim do dia, sobre a praça pegajosa de sangue, herói de nada, tentei salvá-la
e rebentei-la o caule tentando arranca-la do ventre da terra
[onde a vida se desfaz-levantemos a nossa face
Os gritos ainda ecoavam em meio às trincheiras repletas de ausência,
E, para a minha surpresa,
A flor era de plástico.
Manoel Guedes de Almeida
Teresina-PI, terça-feira, 24 de março de 2009.