quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Arquiteto do Mundo



Arquiteto do Mundo

Primeiro abra os olhos,
Você tem que ver o que está fazendo.
Depois, comece pelo início
Porque aí se concentra tudo.

Então, construa um lago
E perceba que isso é bom,
Nele, coloque lambaris de almas
[alimentá-los será alimentar-se a si próprio.

Em seguida, e não se esqueça, construa uma casa,
mas que esta seja de vidro,
para que possas ver tudo o que criastes
e que é belo

Por fim, construa uma cama pequena.
Não é muito difícil,
mas você tem que criar primeiro os pés.
Feito isto, é só deitar-se e entrelaçar-se
com a base de sua própria vida.

E se deitem e se beijem e se amem...
Essa será sua maior criação.
Só então, caro aprendiz de Deus,
Seu mundo estará completo.

Manoel Guedes de Almeida
Floriano 04 de agosto de 2007.

E.T.


E.T.

Hoje vi um ser interessante:
Pele cobria seu rosto pálido
Cicatrizes recobriam sua pele porosa
Apenas pêlos cobriam seu corpo quase nu

Hoje vi um ser estranho
Eram ágeis suas mãos
E quando algo ao chão
Atraía sua atenção
Em meio a hambúrgueres estragados
E cachorros-quentes fedidos
Pegava com suas mãos cheias de calos
Mas não sentia
Via com seus olhos míopes
Mas não enxergava
Cheirava com seu nariz aquilino
Mucosamente vedado
Mas não sentia odor

Olhou, pegou, comeu, caiu...
Morreu pouco tempo depois.
Causa: macumba!

Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 27 de novembro de 2006
.

Improbabilidade

Acaso: "Imprevisível!".
Diz o Aurélio
Pobre Aurelius...Pobre Aurelius...

E no acaso em que me encontro,
Passo a passo,
Sigo como quem não vê (e vê-se)
Procurando em cada gesto teu
O acaso dos atos meus.

Acaso: "insubstantivo indeterminado
Imprevisível incontrolável ".
Diz meus olhos fechados
E minha pupila que brilha,
Negra,
Sob a orgia de minha vida
Que dança como uma rapariga
Sobre a mesa de um bar.

"Acaso"...
Diz meus lábios trêmulos
E na lúgubre acidez
Do veneno que bebo
Me vejo
Refletido no espelho
Da Alma
Que não me habita mais.

E canto e danço,
Frenético,
Como uma puta de motel
Que se despe ao meu lado
Feliz por um amor de
Incidências.

"Co-incidências"
Digo em voz baixa, raquítica,
Sussurro...
"Por que é tem que ser assim!?"
E percebo nossa música
Que toca,
"Que toca (me)"
"Pucca 'A'ma Garu!".
"Sua espada é sua cadeira...".

Ouço uma voz que não vejo
E me faço feliz
Certo do acaso do Mundo (nosso)
Gerador de Improbabilidade infinita

"Te 'A'mo muito e para sempre, todo O Sempre".
Sinto uma voz rouca
Que ecoa
Aqui
Dentro de mim.


Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 24 de Abril de 2007.

As Mãos que sustentaram o mundo

As Mãos que outrora ergueram o mundo
Já tremem exaustas e vestem luvas
Temem contaminarem-se
Com os vermes do conhecimento,
Tão letais para o que é Saber

As Mãos que outrora ergueram o mundo
Dizem Adeus em silêncio
Não ousam proferir
Qualquer palavra
Pois tantas já foram ditas,
Escritas e esquecidas
Nas páginas de livros
Que seria tolice
Desperdiçar seus últimos dias
Em vão

As Mãos,
Aquelas Mãos sem idade,
Agora suam, tremem, e sentem frio
Há rugas
Sob a pele necrosada
E pus
Que escorre
Em finos fios

Aquelas Mãos velhas
Que um dia sustentaram a vida
"Agora são desnecessárias"
Dizem os outdoors e os neons nas avenidas.
Há máquinas sustentando máquinas
Chips gerando vida in vitro
E o que fora paterno toque passional
Agora é garra fria metal
INOX

Aquelas Mãos austeras
Não compreendiam o Autismo
Do mundo que criara,
mundo que criara Mundo
Repleto de monstros e fadas
Todos asfixiados pelo que fora um dia vida
Mas agora é o hálito divino
Não passa de poluição
real.


Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 08 de dezembro de 2007.