sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cruz e pijamas



Cruz e pijamas

Estas sombras que enegrecem os céus
não são nuvens
Este húmus com que qualificas o solo
não é húmus
Estas lágrimas com que umedeces o mundo
não são tuas – este filho

este infante que repousara a mão sobre o papel em metáforas embebido
e que a contornara com a indiferença pueril da inocência
deixara nele gravada a rupestre pintura da história mais humana
mas esta criança não é tua – minha também não é

olhara de soslaio, fingira não te ver. Dissera “meu Pai”
e papai emudeceu...

Fora deus pagão. Anjo também fora. Fora infante antes
De findado o círculo pelas suas fadigadas mãos cheias de calos
Fora mais que o cansaço. Quisera ser mais e fora mais que a vida.
Fora a Cruz e o Espinho e a Lança – o Cálice e a Flor
Fora a ordem e o subseqüente – o medo e o imóvel.
A cruz azul no peito.
A espada mais pesada que a Alma
O elmo mais pesado que a Fé.

A vagar pelo deserto... Palmo – a - palmo, uma – a – uma,
Rumo a Terra donde jorra Leite e Mel,
Ao Ventre da terra... Da terra ao ventre
Ao ventre da baleia azul

Nascera c’oa morte de Deus. Nascera para sempre. Sempre.
Para sempre Auschwitz.

Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 23 de outubro de 2009.