quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

“O inferno são os outros”


Necessário para mim o outro também é um mal, mas um mal necessário. É ele que me dá significado ao meu ser. Sou uma consciência livre, mas uma consciência que se descobre livre num mundo repleto de outras consciências também livres. E é aí onde encontramos o tal conflito. O outro me faz ser indefeso perante uma consciência que me julga. Diante do outro sou uma consciência transcendente-transcedida. A transcendência alheia supera minha transcedência. Sou um escravo diante do outro que nos julga.

Na verdade o único limite da liberdade, lembrando que para existir liberdade é necessário os “obstáculos mundanos” numa relação interna Em-Si- e Para-Si, é a liberdade do Outro. Neste conflito, desde que existo já estabeleço um limite à liberdade alheia e ela a minha. Então as relações humanas, num sentido ontológico originário, é a tentativa de cada um possuir a liberdade, neutralizar a liberdade do Outro.

Nesta luta existem duas condutas de posse:

1ª- O projeto de nos apossarmos da liberdade do outro tratando-o como ser que nos transcende;

2ª- O projeto de nos apossarmos da liberdade do outro tratando-o como objeto que transcendemos.

Na primeira, a grosso modo, recorremos a um artifício, que é escondermos o mais possível enquanto liberdade , para escravizar o outro. Tentamos nos fazer do modo como somos vistos pelo outro.

Na segunda procuro fazer do outro um mero objeto, um corpo, um par de olhos, esvaziando-o de todo julgamento que possa ter sobre mim. Corporifico a liberdade do Outro.

Em todos os dois casos estamos fadados ao fracasso.