sábado, 14 de fevereiro de 2009

Gênesis


Gênesis



Um dia, quando ainda não havia dia algum,

E tudo era a ausência de tudo

Dissera Deus:

Que se faça o caos. E o caos se fez

Da eterna desordem das coisas.

E o caos então criou o homem.

E o homem, no balanço de tudo que não havia,

Frustrado por não possuir o que não possuía

Criou um deus.

E o Pai, tristonho, abandonado,

Inutilizado e esquecido pela nova crença,

Que a tudo explica e a tudo esconde e esconde-se na fé,

A ciência do espírito e a essência da ilusão,

Está eternamente descansando

Em sua tenda de nuvem em algum lugar de algum mundo

Ou em uma estrela qualquer,

Observando, de longe,

Nossa incessante busca e tola fé.



Não. Deus não está em todos os lugares.

Não está aqui agora. Nem à nossa volta nos cuidando.

Já foi há muito por nós expulsado.

E, insensatos, um imã de geladeira à nossa imagem idolatramos.

E por ele rogamos,

E a ele entregamos a alma de nossos filhos

A ele, perdidos, pedimos perdão,

E cremos sermos perdoados.

E a ele entregamos nossas próprias almas...,

Reflexo de nosso ego inflado.



Esculpimos a nós mesmos no sabão,

Apagamos a luz e fingimos tê-lo perdido.

Se ascendemos uma vela, o encontramos.

Felizes em nossa ilusão, erguemos altar e fazemos oração.

Depositamos ali todos os nossos sonhos,

O que devíamos levar conosco para todo o sempre.



É que em nossas mentes hipócritas

Não há espaço algum a Ele agora.

Se estivesse aqui no mundo, não o procuraríamos tanto.

Ele está lá, em algum remoto canto, nos observando,

E nós cá, baratas tontas,

Venerando nosso próprio espelho,

Tentamos voar e alcançá-Lo com as asas que criamos. Tolos.

Não sabemos pra onde voar. E se lançamo-nos ao ar,

Perdemo-nos sem rumo

No infinito espaço de nossas falsas esperanças.



Manoel Guedes de Almeida

Santos-SP, terça-feira, 29 de julho de 2008.