sábado, 23 de outubro de 2010

A solidão e eu


Duas músicas para vocês:
http://www.youtube.com/watch?v=nN5mx6-U7HE&feature=player_embedded#!

http://www.youtube.com/watch?v=5JdVrgJ5r2o&NR=1


A solidão e eu

Penso que talvez aqui resida o fim deste blog. Ultimamente minha criatividade, como se não houvesse nada dentro de mim, deixa-me à míngua de meu próprio sofrimento. Nunca fui assim, e acho que apenas por isso ainda esteja aqui respirando, mesmo que pausadamente, e apenas por isso minhas mãos ainda se movam a esmo no mesmo compasso que pulsa meu peito. O poema roubou de mim a coragem para o suicídio, a adaga, e agora ele se foi pelo vão que ficou, e a única coisa que resta é a vontade insana de fugir, talvez Santos, o inferno, talvez o pampa. Longe muito além dos meus pensamentos.
Dái eu chego em casa, é noite alta e o cansaço transborda de mim por cada poro.  Quero fugir, mas a solidão me envolve em seus laços como um cachecol, e me enforca.  Sento na cama; olho o espelho e a alma desfigurada que se reflete dele. Tudo é silêncio e vento, a solidão que adentra pela janela entreaberta da noite passada, noite de vivificação. 
Estranhamente, eu não conseguia por um minuto tirar da cabeça a imagem dos meus fantasmas, das pessoas que matei. Elas me perseguem nas paradas, nos pensamentos, em cada folha em branco e fio de memória, em cada reflexo ou sonho de morte.
Ao final desse período de evasão, o mundo me caiu como concreto. Fechei os olhos e, quando os abri, vi que o sofrimento ainda não se dissipara. Ainda estava ali, me alentando como única companhia que resta ao último homem em Auschwitz.
Levantei-me, fui lentamente até a sala. Estava escura e o vento que entrava pela sacada anunciava a nova estação. Procurei qualquer coisa que pudesse me levar dali, filmes, kafka, House, tudo estava tão distante e naquele momento minha alma tão pouca não mais me bastava. Resolvi apenas sofrer, deixar que tudo viesse, como quem fecha os olhos instantes antes da colisão. Fiquei lá, estirado no chão por algum tempo, muito tempo, e o silêncio me perturbava como um peso, me sufocava como uma prisão.
Levantei-me, o chão ainda estava no mesmo lugar. Os livros de anatomia ao meu redor, as anotações, os poemas rabiscados. Tudo estava como estava antes e como havia de ser. Era mais de meia noite. O tempo tinha passado, apesar de meus protestos o tempo tinha passado e não levara consigo minha memória.
Procurei por amigos, encontrei vários. Distantes ou mortos. Senti cheiro de sangue. Minhas mão estavam úmidas, meus olhos também. Depois de três anos, não achei que eu ainda fosse capaz de chorar por qualquer motivo que fosse. Não vejo racionalização nisto. Mas chorei, mesmo sem identificar o gosto das lágrimas, o cheiro da dor. Era apenas o vazio e o vazio doía como um punhal. Em outros tempos, talvez Ismália eu fosse ou talvez apenas um homem-bomba.

... (note descarregando) - depois termino.


    Manoel Guedes de Almeida 
Teresina - PI, 23 de outubro de 2010.