segunda-feira, 18 de junho de 2012

Quíron, o curador ferido


Quíron, o curador ferido

Custa a crer nesta tua concretude
Que exista alguma outra forma. Algum outro tamanho
Que somente o amor cure. Que reformulem as mãos, o contorno, a fôrma.

Metade humana. Fera bruta a flauta flui, ferida a divindade
Sob o veneno da alma há dor.
És sobre-humano. Capaz de sentir.
Medir, pesar. Sentir. Desenhar os contornos da dor e sentir.
A ferida que não quer sarar. A alma. Acesa.

Calma, inda existe solidão em algum lugar da Terra.
Renda-se. Queres morrer?
Não podes.
Queres viver? Encimentar cada célula do seu corpo?
Não podes.

Devias ter perdido o lado humano. Entender a dor
É vivê-la.

Manoel Guedes de Almeida
Teresina, 18/06/12




Dizem que devemos praticar cuidado ao invés de assistência. Como "cuidar"? Como uma mãe cuida de um filho? Como alguém que ama? Dizem (alguns) que a prática do cuidado parte da criação de alguma coisa ou ferramenta que una as pessoas, que crie vínculo. Outros, mais quironianos, acreditam que parta do conhecimento de si, suas fraquezas, medos, anseios.. e ver o quanto isso é subjetivado no desenho de seu corpo no espaço, de seu corpo concreto, de carne e osso. E entender que o Outro também se constrói assim. Então é isso: cuidar parte de entender e aplicar nas relações humanas uma construção simbólica em contraposição à construção cartesiana do corpo e aceitar como legítimas outras formas de viver diferentes da sua, entendendo, assim como Quíron, nossas feridas, nossas fraquezas e forças. Mas e se morrermos também? Somos assim tão vulneráveis? Nos permitiremos sentir?