quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Meio sem saber


Meio sem saber
(Manoel Guedes de Almeida)
Muito andei pelas ruas/ sem guardar nomes/ sem saber pra onde trilhar
Muito andei, sabe-se lá onde/ sem saber aonde/ bangladeshi/ novos horizontes
Puteiros suspensos dos jardins de ChanGrilah /
meus passos sobre as asas do passado/ querubins querem me decapitar
Andei pelas avenidas/ becos úmidos/ sonhos sumidos / fé, Bragavagitá
Pegadas paralelas, highway deserta/ mundos paranóicos, /faces parabólicas, diabólicas

Este lugar comum/ esta ânsia/
Este vagar sem rumo,/ desesperança/
Amigo, decerto /
O sol um dia nascerá mais calmo e na varanda o orvalho anunciará
Que o mundo estará/ deserto

Mas amigo eu acordo e na rua há o mesmo semáforo/
meus pés nus sob o asfalto e o sangue negro visto do alto/
Escorre sobre o altar/
O brilho alto me diz/ “olhe pro lado e sorria, infeliz!”
mas nunca dado a tanto crédulo/ ranquei coração insano do peito e talvez
você o faça feliz

desfiz tudo que havia feito/ razão e direito/ destino
de concreto  se não fosse feito/ dobrei-me por inteiro/ me rendi
me fincou coração novo no peito feito um punhal/
não houve jeito e sem jeito,/ já era tarde,/ sorri!

Mas não acredita em declarações de amor/ acupuntura, hipnose e filmes de terror/
E quando me pergunto que barato eu tomei /
vem uma voz doida de dentro mim de e me diz “nada”,/
 mas não sei nadar, alter ego infeliz/ 
Mesmo assim, untei o peito com teu mito
Porque o mito não derrete ao Sol
É que, assumo, sou todo razão, mas no fundo
Quero no abraço meu teu coração 


Teresina – PI, 28 de agosto de 2010.

Dor

Dor

E quando penso que algumas coisas não são pra sempre
Me dói o peito
Porque é como se parte minha morresse com cada sentimento que passa
Porque na verdade eles nunca passam ...
Então serei eu ao final da vida
Uma cama vazia, um chão repleto de livros e lágrimas, e a solidão ao redor de tudo,
Serei apenas uma célula de equação vazia

Então, a dor é isto?!
Esse embrulho na alma, esse vazio infinito?
Esse sentimento disperso num mundo disperso
Essa vontade de correr da vida?

Mas meus pés não se movem
E uma vontade imensa de cair me envolve
Deito no chão, o chão não me basta
Preciso de algo mais profundo, algo que me faça adormecer
O chão me escapa aos pés,
mas meus olhos estão abertos enquanto você dorme
eu de perto sinto
seu cheiro ainda nos meus lençóis

Essa intoxicação, essa vontade insana de desbravar o mundo
Como se eu fosse bússola e qualquer caminho levasse ao mesmo caminho
Se não houvesse se não um destino e os meus caminhos me levassem a você

Primeiro te afastei, pra você vê, logo mais te abracei
Depois éramos um só ser sorrindo, e vê
A imensa falta que você me faz


Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 06 de outubro de 2010.

Solidão


Solidão

Solidão, pra quê?
O anticristo sonolento à cabeceira
As nuvens anunciando a estação...
E este inferno.
Solidão, pra quê?
As bancas de revistas, as noites perdidas nas praias, as pistas
Os filmes sem nexo surrealistas, com o amor o primeiro contato,
o ardor e o ato

Solidão, por quê?
E entras pela janela fechada, penetra nos poros da pele e se dissolve
Em cada gota de suor e sangue que resta. Solidão por quê?
Por que me leva dos abraços e mata, paulatinamente, tudo que é vivo e capaz
Por que só posso ser solidão? Por que me fizeste matar a todos que amei?

Trago comigo o fardo do meu primeiro poema lido:
- a gente sempre destrói aquilo que ama.

E talvez nem precise ser feliz, basta não sofrer.


Manoel Guedes de Almeida
27 de setembro de 2010.
Teresina – PI