quinta-feira, 16 de julho de 2009

O peso da pena


Foto de © meninazul

O peso da pena


A mesa estava vazia, vazios estavam os copos.

Todas as bocas sorriam e choravam todos os olhos.


Sobre a mesa, lentamente Teresa se despia

Como criança que explora o próprio pudor.

Todos sorriam alegremente e cantavam unívocos

A mesma canção – mas ninguém entendia

E os sorrisos eram todos iguais


Lá fora, sobre a plantação, lagartixas aladas

Anunciam estação. Mas o milharal é de rocha

E o solo é negro e duro e estéril. O sol é ausente.

Somos formigas famintas

E nossos negros buracos orientam multidão


O coletivo inconsciente guia as mãos e as mãos

São fortes e são tantas e se dão, e se vão

Antes que percebamos qualquer ínfima intenção.

Entre a volúpia dos corpos há um espaço

Maior que o maior vão


E aqueles ternos olham Teresa e Teresa nua

Fecha os olhos e se fantasia de Marie Charlet.

Na escuridão de Teresa não há imagem que perfaça o medo.

Não há medo. Não há razão alguma.

Apenas uma lâmpada suspensa do teto.


Escuridão é a negação de toda luz. E a escuridão, Teresa,

É o infinito. Pega tua taça. Beba o infinito.

Dissolva-te nele. Dispersa-te.


Lá fora, as lagartixas voam e os homens marcham

E cantam dingos felizes. Em Boêmia os cemitérios são festa

De convidados nus, enterrados vivos em vala coletiva


Teresa dança. Seu corpo é leve, mas sua cabeça

Pesa mais que o mundo. Sente um desejo

Incontrolável de cair, uma atração pelo declínio

Pelo delírio. Deseja-o como à própria vida

[suas pernas tremem


Zoroaster anuncia o fim dos tempos. O jegue relincha.

Por mais que gritemos, o silêncio é sempre maior

Que qualquer suspiro.



Manoel Guedes de Almeida

Floriano-PI, 16 de julho de 2009.