Se eu morresse amanhã
Talvez escrevesse uma carta como esta
E a enterrasse numa latinha de manteiga no fundo do quintal
Para que daqui há 500 anos alguém a encontrasse
E soubesse que existi, que de fato existi,
Que sorri como alguns e chorei como milhares
Que amei mesmo sem crer que fosse possível amar
Que sofri coisas pelas quais ele também sofrera
E que meu sangue fora da cor do seu
Que parti antes que compreendesse o peso do esquecimento
E pichei asas nas paredes do mundo
Na ânsia voar
Que ergui meu punho contra quem amei
E matei quantos eu pude
Que lutei contra quem não lutava e gritei
Enquanto feras devoravam meu corpo
Quando quis ser concreto e não pude
Quando meu grito ecoava como d’um bebê abandonado
Num vão de esquecimento e vazio
Todo simbolismo é resto sem gosto e um rosto
Não me restará mais
Manoel Guedes de Almeida
Floriano – PI, 13 de janeiro de 2011.
Um comentário:
Lindo, cara, muito bom!
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