quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Estas palavras

Se eu morresse amanhã
Talvez escrevesse uma carta como esta
E a enterrasse numa latinha de manteiga no fundo do quintal
Para que daqui há 500 anos alguém a encontrasse
E soubesse que existi, que de fato existi,
Que sorri como alguns e chorei como milhares
Que amei mesmo sem crer que fosse possível amar
Que sofri coisas pelas quais ele também sofrera
E que meu sangue fora da cor do seu
Que parti antes que compreendesse o peso do esquecimento
E pichei asas nas paredes do mundo
Na ânsia voar
Que ergui meu punho contra quem amei
E matei quantos eu pude
Que lutei contra quem não lutava e gritei
Enquanto feras devoravam meu corpo
Quando quis ser concreto e não pude
Quando meu grito ecoava como d’um bebê abandonado
Num vão de esquecimento e vazio
Todo simbolismo é resto sem gosto e um rosto
Não me restará mais

Manoel Guedes de Almeida
Floriano – PI, 13 de janeiro de 2011.

Um comentário:

Pedro H. Amorim disse...

Lindo, cara, muito bom!