segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A última lágrima de Ismália


A última lágrima de Ismália


Homens tolos, estes. São todos tolos!
Procuram um sentido pra tudo
Mas sequer percebem que
Não há sentido algum!
Não há significado nas escolhas escondido.
Não há escolhas nem caminhos que se possam seguir.
Não há destino além do acaso talhado
Na nossa testa
E os mandamentos escritos com sangue, nosso sangue,
Sempre se apagarão no cessar da velha orquestra.

Homens tolos, estes homens...
Sempre procurando um sentido pra vida
E uma explicação para todas as coisas.
Não vêem que o sentido da vida é o sentido que a vida dá!
E das coisas, só resta a explicação teórica de algo inexistente.
E vivem um sonho nutrido pela ilusão de vida eterna e felicidade ilusórios,
Enganados pelas próprias mentiras.
A vida não mais nos dá sentido algum.
Há muito se rendeu desiludida à nossa hipócrita mediocridade.

Pobres homens, estes...
Traçam caminhos, mas não os seguem.
Criam imagens, mas não às pintam. Depois às esquecem!
Nem percebem, em sua ingenuidade inconsciente,
Que não há caminho algum!
E as imagens são apenas lembranças de um futuro improvável...
A vida é eterna rotação. E giram e giram
Em torno do eixo de seus mundinhos particulares.
Infantis, querem desbravar o universo inteiro,
[mas estão perdidos em si mesmos].


E jogam sementes na pedra bruta... e guerreiam por uma paz impossível...
Têm a falsa idéia de controle sobre seus próprios atos.
Gostam da sensação de poder que não possuem.
São meras pedras de barro lançadas ao mar. Nada mais.

Procuram vida em outros planetas
Que justifique a falta de vida neste.
Batizam novas estrelas. Novos bebês. Novas marionetes.
Pobres homens. Todos nus. Sem nome. Semimortos.
Tentam encontrar a essência da vida em outros mundos
Pois venderam as próprias em liquidação há muito.
Havia tantos mundos neste...
tantas almas...
[destruíram tudo!...


Na ausência de si, fazem poemas.
Choram sós no banheiro. Em segredo
Lavam o corpo vazio. Roubado. Sem alma.
Repousam a cabeça sobre os joelhos, curvados,
E deixam que a chuva escorra do único céu que lhes restou.
Fecham os olhos. Tentam pensar. Não há nada.

Não entendem nada.
Não sentem nada.
Não são nada...
Feto sem mãe.
Casa sem teto.
Céu vazio [criança sem Pai]

Amor sem afeto.

Mas não há nada para entender.
Estão ali, sobre o piso molhado.
Todo o resto foge.
Apenas a quente água sobre os ombros resta...
Então por que inda choram?!



Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, domingo, 27 de julho de 2008.

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