segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Soneto do homem imortal




Soneto do homem imortal

Então, despedir-me-ei de todos, um a um,
E fecharei os olhos e lembrarei.
E sorrirei com o canto direito da boca, de leve.
Mas ninguém me verá.

Mundo sem árvores, sem girassóis.
Céu só luz. Corpo sem pele.
[alma vazia

Treinarei tantas vezes. Escreverei tantas frases.
Tantos discursos fúnebres...

E verei todos que mais amei serem levados
Lavados. Leva. Pro fundo da terra.

E chorarei
Sem que as lágrimas toquem o chão.
Não há chão onde se fixe a terra.

Escavarei o pó
do pó
[umedecido
Revolver-me-ei, sentimentos breves, grão a grão.
Mundo vazio. Solidão.

Enterrar-me-ei em mim.
Refar-me-ei mundo, então.




Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, terça-feira, 04 de novembro de 08.

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