quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Desbucólica



Desbucólica



Não,
Nesta noite não falarei de amor.
Não cortarei minhas mágoas
tornando-as mais suportáveis
Ou gritarei, ser insano,
disfarçando a dor que sinto nos versos que escrevo.
Não. Os versos não disfarçam a dor.
Sentar-me-ei nesta cadeira vermelha. De plástico. Fria.
Despir-me-ei todo.
Então, nu,
Descreverei minha desilusão com o mundo,

Varias vezes você vai chorar na vida.
Muitas mais,arrependido, após a morte.
Passarão por ti e olharão tuas feridas,
Sorrirão sem que percebas,
E passarão.

Ficaras desempregado. Gripado.
Terás carie. Mau hálito.
Infecção. Laringite.
Paixão.
Amor.
E tudo de novo.

Chorarás no banheiro.
Declarar-se-á só amor.
Serás ouvido às vezes. Mas tantas vezes
apenas ignorado.

Suarás frio nas despedidas. E ficarás ansioso no reencontro.
Tremerás as pernas ao primeiro beijo.
E chorarás um dia o abandono.
Mas,
Mas tu sobreviverás
Para que possas sentir tudo de novo.
A vida é um ciclo, caro amigo. A vida é um ciclo
e tudo acaba exatamente no mesmo lugar.


E então, um dia, velho,
Quando tuas lembranças já te pesarem no peito
E olhares pra traz já sem ilusão,
Perceberás, caro amigo,
Nascera, e te deram um nome e te nutriram de esperanças.
Mas crescera raquítico,
E agora percebestes, mas em vão,
Que ilusões não sustentam os homens.
Tentarás chorar, mas de rosto enxuto,
Fecharás os olhos,
E morrerás então.





Manoel Guedes de Almeida
Santos-SP, sábado, 2 de agosto de 2008.

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