quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Entre Deus e Nietzche


Entre Deus e Nietzche

Câmeras espalhadas pelo país. Bancos, escolas, praças, nada foge do olhar perseguidor dessas máquinas e do desejo desesperado de contenção da violência. Essa banalização da vida, essa transformação do privado em “Reality Show” coletivo, tem conseqüências calamitosas em longo prazo, tanto para a sociedade quanto para os indivíduos que a constituem.

Isso vai muito além de mera perda de privacidade. Quando, numa Nação, o Estado se torna onipresente e assume um patamar quase divino de observação de tudo e de todos, ele pode coibir e manipular a população, inibindo protestos de quaisquer tipos, e arquitetar a manutenção de minorias privilegiadas no poder. Dessa forma, o homem livre viveria uma crise ideologia de difícil retorno.

E pior: seríamos a transição do animalesco ao robótico, algo que já é fato, segundo alguns filósofos. Crianças cresceriam como atores, nunca desenvolvendo uma personalidade que lhes seja genuinamente própria. Nesse ponto, teremos construído um mundo mais seguro, talvez, mas repleto de seres iguais, como numa linha de produção fordista ou num campo de concentração nazista de corpos uniformizados, sem que lhes sejam permitidos nomes ou desejos individuais.

Submeter-se, pois, ao olhar do homem é instituí-lo de um poder maior do que ele pode suportar, com seus preceitos éticos e morais, por vezes de bases frágeis e facilmente corrompidas. Isso seria dar substrato ao desenvolvimento futuro de terríveis conflitos ideológicos à semelhança da Ditadura Militar brasileira.

Manoel Guedes de Almeida

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