quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ouro de tolo

 

     Passei muito tempo de minha vida procurando por um amor
--- primeiro fora, depois dentro de mim --- que correspondesse às
expectativas que eu, como humano, criava. Como se é de esperar, meu
empenho nisto não durou muito tempo: decidi, segundo uma razão que há
muito não usava, que o mais sensato seria parar de pensar que as
coisas poderiam um dia dar certo, parar de acreditar em Branca de
Neve, em Gnomos ou em Bom Velhinho, e da mesma forma parar de
acreditar nesse troço que muitos insanamente denominam amor.
    Infelizmente ocorreu algo que mudou meu ponto de vista em relação
ao mundo, ao meu mundo. E agora, em vez de acreditar que não existe
amor, acredito que ele, tal como o ouro, não se pode encontrar em
todos os lugares, é algo raro. Seria loucura crer em sua
inexistência apenas porque em umas poucas buscas não foi o possível 
encontrar. O fato é que existem mais de 6 bilhões de pessoas no
mundo e que só uma delas nos completa.A conseqüência óbvia disto é
que não deve ser muito fácil encontrá-la.
    É incrível ouvir uma música e poder decifrar códigos-fênix nas
entrelinhas. É incrível ver o invisível e conter o imensurável numa
urna pequenina que cabe na palma da mão.
    E é por isso que te agradeço, por você ter me permitido ver o que
ninguém mais via, por você ter me permitido observar um vôo de
passarinhos antes do disparo da arma, as flores brotarem antes do passar do caminhão.             
 Em fim, por você me guiar por esse mundo e ser um dos poucos motivos de
minha felicidade, porém um motivo que imprime a mim uma felicidade
extrema que se espalha ao infinito, porém com um estranho efeito
colateral: um sorriso constante e abobalhado na cara.
     Só temo que isso tudo seja só mais um produto de minha mente
conturbada, como todo o resto das coisas no mundo.

Manoel Guedes de Almeida

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