quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Na madrugada

Na madrugada

Tenho tido longe de mim, por muito tempo,
Um amor maior que o contivera
Uma beleza maior que a primavera...
Deserdo grande e frio, tempo disperso,
Tempo de ampulhetas vazias, casas desertas.

E este corpo aqui jaz receptáculo
Ossos a bailar cinéreas praças
Civilizações entre rios e monumentos
Deste corpo de bilhões de rostos incompletos. Iguais.
Destes sonhos de concreto. Banais. Dos objetivos.
Da garra que lhe transfigura a face e rança-lhe os sentidos
Feito um punhal

E me trazes um sorriso, mas não estás a sorrir senão dentro de mim.
E me procuro em cada traço, mas sou desenho em nuvem
E me refaço antes que me desvende. De repente sou Deus lá em cima.
Inquietação. Noutro instante sou apenas borrão
que se desfaz com a chuva. Ou com a noite. Ou com o sonho.
Talvez a morte me desfaça e ponha no meu peito algum esquecimento.



Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, quarta – feira, 05 de janeiro de 2011.

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