Então era isso, só uma
palavra?
Depois de tudo isso, só uma
palavra nuda?
Uma palavra sem
espinhos? Assim,
Desenho de tinta
sobre o papel?
Meus olhos passam.
Minhas mãos deslizam
sobre o papel, traçam seu contorno no espaço,
Sentem sua
aspereza no tato. Quantas histórias, esse papel jornal...
Suspiro. Sinapses.
Mas o papel não me
diz nada.
Procuro em volta.
Não há quem fez
papel
Não há quem fez a
tinta
Não há quem fez as
letras
Um furo na parede
De onde pendera um
quadro
Uma estante sem
livros
Uma cama sem corpo
Pó.
O espaço não diz
nada.
Só me resta a
palavra, ali.
Tento desvendar o
átomo da palavra
Letras, fonemas,
afixos.
Reviro os
dicionários de todas as línguas
Consulto especialistas
de todas as nações
Amigos, vizinhos,
amantes...
Rabisco palavra
em toda folha em
branco, em todo canto de concreto
Criptografo palavra e envio ao espaço sideral
Ninguém conhece
palavra falada ou escrita
Prego palavra em
postes
Os homens colocam
palavra em bandeiras
Pintam palavra na
testa
Fazem pós –
doutorado em palavra
Palavra batiza
ruas, creches, corpos
Fazem poemas sobre
palavra
Tento pronunciar a
palavra
A boca teme. Treme.
Treme.
Grunido.
É só uma palavra. E
eu sou um homem.
E o quê pode a
palavra ante o homem?
Floriano-PI, 30/06/12
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