(O peso do pó)
A boca tinha poucas palavras
e muitas dúvidas
E uma umidade fria que
escorria dos olhos
Os pés, justapostos,
esperavam o ato
E tremiam ante a aproximação
A mão esquerda também
tremia, espalmada sob o epitélio
Do peito inquieto
A poeira do criado mudo, as
folhas rabiscadas,
A parede ao final do
corredor
Espiavam desconcertados. O
quê seria aquilo?
Alguma memória?
Outra conjectura?
Vagarosamente, o pé repousa
sobre o espinho. Um passo.
O chão liso do assoalho não
entende a pressão imposta
E cada molécula de ar da
sala sente a presença do medo
O pé deixa uma pegada. É
medo.
Um cheiro tremido e cinza
unta a pele e seus pelos.
A boca diz uma palavra, mas
apenas a poeira escuta.
O pé ensaia um passo. O
mundo dá duas voltas.
O espinho crava. Dois rios?
As unhas ruídas não
entendem. O Sol se esqueceu de nascer.
As mãos, as duas, se
emocionam. Leves.
Leve.
A respiração é rápida e
breve.
Um adeus mudo, cego, surdo.
Manoel Guedes de Almeida
Floriano – 30/06/12
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