quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Aposentadoria de um poeta


Aposentadoria de um poeta

Só por hoje,
Queria sentir-me plenamente
Mensurar esse sentimento de mundo que em meu peito ladra
Medir-me em unidades de infinito
Pesar a luz das flores
Sentir peso nisto
Sentir os grãos do sem-fim deslizarem por entre meus dedos
E voltarem suavemente à praia onde pessoas fazem anjos
E brincam de sentir amor.

Só por hoje,
Afogarei em minhas lágrimas
Toda a inspiração que não me tarda, retarda,
Farei barquinhos do papel de perfeição já rabiscado
E com meu leme de psicoses amorosas desvairadas
Guiar-me-ei com minha alma desgraçada
Do meu rio até teu mar.

Só por hoje,
Queria fazer do Mundo feriado
Onde cavalos alados tirassem férias pra trotar.
Nem fadas, nem desejos, nem heróis... Nem nada...!

Só por hoje,
Queria não viver mais poeta
Não ver o mundo poesia
Nem metaforizar os sentimentos
Transfigurando tudo em pensamento

Só por hoje,
Queria sentir com meus dedos
Deslizando em teu corpo
E olhar com meus olhos...
Sentir o cheiro e o gosto do mundo.

Idealizar tudo isso
É estar doente da vida.

Só por hoje...
Com meus braços e pernas e mente bem atados
Expugnado, conto a conto, desse Mundo Protetor
Queria ir, ao menos uma vez,
Sem nenhum título de escritor,
A uma praia real
E Viver só amor


Manoel Guedes de Almeida
Floriano-PI, 28 de junho de 2008.

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