quarta-feira, 17 de junho de 2009

O altar e a fábrica





O altar e a fábrica


Não, tuas rosas não me bastam mais.

Depois de fragmentado o cálice do mundo

Desfizera-se todo o amor, pois pra qualquer amor

Não há mais espaço no mundo


Cala-te! A vida não é digna de palavras!

Nossos filhos choram, eu os ouço.

Nosso amor está findado, eu sei.


Transbordado de amor e desnutrido

Vejo que tudo é muito pouco para poucos

E tão sonho para os que sonham uma vida

na falta de algo real na qual se apoiar


Vede: Deus está como nós, faminto.

O céu está seco como este solo onde plantas, e nada brota.

Seus olhos estão como os nossos, sedentos por qualquer frescor.


Vede: Deus ajoelhado pede esmolas ante as fábricas

Roga aos céus tão cinéreos alento qualquer

E tenta adentrar no Reino dos Céus, mas custa caro,

E nada tem.


Deita como nós, só. A noite é toda silêncio e espreita.

Os medos são muitos, a fome também.

E chora sem que nenhuma lágrima dissolva

A sujeira podre dessa vida.


Manoel Guedes de Almeida

Teresina – PI, terça-feira, 16 de junho de 2009.


Nenhum comentário: