sábado, 24 de outubro de 2009

Deuses e arco-íris


Deuses e arco-íris

Mamãe preparava feijão com arroz enquanto brincávamos
de fazer chuva e arco-íris no terraço, enquanto ensaiávamos nossos primeiros passos
rumo à imortalidade de quem não se importa

Papai trazia peixe ao final do dia
e o sorriso cansado de quem está diante da vida
e a vida se mostra grande e muito
[estávamos felizes sem compreender o que isso significava

Certa vez chegou mais cedo. Trouxera consigo um cacho de banana verde
que comprimíamos entre nossas coxas finas,
que jogávamos contra a parede

fez avião de talo de buriti. Fez hélice que girava ao sabor do vento.
E a meninada toda, de pés desnudos, de corpo desnudo,
corria na rua a tentar voar
- naquela época o céu parecia mais perto, parecia infinito

Mamãe preparava feijão com arroz – não desses que se come e caga.
Numa velha maquina de costura, tecia nossas roupas – não dessas que se suja e rasga.
Conseguira com muito custo uma tesoura – queria nos tornar humanos
Aprendera o oficio. Sob gritos de protesto
Cortava nossos cabelos ao final do dia

- e íamos todos jantar...


Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 24 de outubro de 2009.

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