sábado, 24 de outubro de 2009

Valhacouto



Valhacouto

Meu mundo não são cidades
Como as cidades que brotam destes campos secos
Onde a chuva evapora antes de tocar o chão.

Meu mundo não é de terra rachada ou batida
Não é físico, palpável ou visível
Nem se restringe a essa noção linear
De tempo, espaço e nação.

Meu mundo não é branco, preto ou pardo
Nem tem cheiro, gosto ou tato
Meu mundo não tem sentidos nem rosto
Nem lembranças que sufocam sorrisos,
Ou sorrisos que se desfazem
Perante o maior de todos os mistérios.

Meu Mundo não é mundo... nem é mudo... Encerra em si
A pronúncia de todos os versos transitivos diretos,
Pois é substrato onde o Todo Arquiteto
Equaciona seus maiores milagres.

Não me venhas com tua racionalidade,
Pois não me resta espaço algum a ela!
Sou papel em branco e sem bordas ou arestas
Onde brotam Árvores que não são como as tuas árvores
Sempre secas, sempre mortas,
Que se contorcem no árido da terra
E tentam fugir do inferno do céu

No meu Mundo as raízes são desnecessárias
E não há campos onde rumina o gado
Nem há casas de concreto
Como as tuas casas de concreto
Que sempre podem ruir

Meu Mundo são como as flores que nunca desabrocharam,
Não são como as tuas que já nascem violadas,
Guardam dentre suas pétalas o segredo de todas as coisas.

E minhas crianças também não são como as tuas...
Correm sobre estas superfícies brancas
E olham o céu repleto de vazio,
Que não é como teu céu - sempre cinéreo,
Tampouco como o teu vazio - eterna ausência de coisas,
E brincam sobre a relva molhada
Recém-criada por um Deus
Que também não é como o teu deus,
Que em meio à cintilosas catedrais,
Desiludido,
Se desfaz em chuva ácida.

Manoel Guedes de Almeida
Floriano – PI

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