REALEJO
E empunhei minha alma
e a dispus na linha do teu corpo, e a disparei
mesmo sem saber que as almas matam pessoas, e sem crer
na tua humanidade
- quando moço, pensava que num corpo cabiam duas almas.
E então teu corpo pendeu, líbero, suspenso no ar...
A vida parecia tão breve, tão mais simples.
Tão transbordada de explicações inteligíveis e ampulhetas vazias...
Palhaço cego, surdo e mudo..., Deus louco, cientista lírico absorto
Em seu amor pelo mundo, morto por este amor pelo mundo...
E, talvez, com o restinho de amor que me resta, embalar tua prece,
Talvez eu devesse rezar antes de dormir... talvez você me traga um beijo
Um punhado de alegria ou o mundo inteiro – talvez seja apenas medo
Do escuro ou do amanhecer
Com o gostinho do amor, gostinho ínfimo que me resta ao anoitecer,
temperar teu rosto. Com a força que me sobra do amor, daquele amor
Que achei ter perdido nas trincheiras, enlaçar teu abraço, teu ar com o ar
que me resta antes de partir. Tocar teu tato
Com o tato que me resta antes de adormecer...
Talvez eu deva fugir desse cárcere vazio...
Manoel Guedes de Almeida
Teresina – PI, 18 de maio de 2010.
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